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A tradição de Burle Marx prossegue, aprofundando-se no Instituto Plantarum


Com Burle Marx aprendi a valorizar ainda mais nossa flora brasileira e a perceber as enormes possibilidades econômicas e estéticas desta valorização. Não é uma questão de mero nacionalismo, mas de racionalidade científica e econômica, dentro de um projeto de país que inclui outras áreas também como participantes de um mesmo projeto de superação do espírito colonizado subserviente de parcelas de nossas elites e classes médias.

O próprio Burle Marx deu o exemplo, em sua história de vida, ao somente descobrir a importância da flora brasileira quando estava estudando em Berlim, na Alemanha dos anos 1920 (se estivesse por lá nos anos 1930, seria levado para um campo de concentração, já que era judeu e parente distante de Karl Marx). Ele não valorizava a flora brasileira até então e teve uma surpresa ao descobrir quantas espécies brasileiras havia no Jardim Botânico de Berlim. Quando voltou ao Brasil, começou sua reorientação de interesses de pesquisa sobre esta flora nativa, nos vários biomas brasileiros.

Fotos: Alberto Nasiasene. Nova Odessa SP.

Jardim Botânico do Instituto Plantarum.

Ele era um arquiteto, mas especializou-se no paisagismo (sem deixar sua produção em artes plásticas). Em suas viagens de exploração, como escreve em seus artigos, chocava-lhe ver, por exemplo, em plena Amazônia, que as cidadezinhas de interior, em suas praças públicas, sequer tivessem espécies nativas da própria Floresta Amazônica, mas estivessem repletas de espécies exóticas (em botânica, quando se fala que uma espécie é exótica, não está se falando que ela seja de uma beleza "exótica" mas que é uma espécie estranha ao bioma local e pode trazer sérios prejuízos para o sistema ecológico do bioma nativo). Pensava-se que a urbanidade tinha que ser de outra natureza (antagônica à evolução das espécies locais, que selecionaram as variedades mais adaptadas ao solo, ao clima e às condições locais, portanto, as plantas mais resistentes e mais adequadas ao bioma local, não sem razões muito profundas). Ou seja, era o cúmulo da mentalidade colonizada.

Fotos: Alberto Nasiasene. Nova Odessa SP.

Jardim Botânico do Instituto Plantarum.

Até hoje, entretanto, reina o desprezo pela tropicalidade brasileira e os velhos hábitos deletérios de importar espécies exóticas que nada tem em comum com os biomas brasileiros (muitas delas se tornam espécies invasoras, causando sérios problemas para o equilíbrio ecológico já tão prejudicado pelo avanço da urbanização não suficientemente planejada e pelos desequilíbrios causados pelas fronteiras agrícolas que fazem pouco caso dos biomas locais). Pior ainda, as pessoas já se esqueceram, a muito (mesmo aquelas com sangue indígena), dos nomes das espécies vegetais (e as serventias culinárias e farmacopeicas das tais plantas) brasileiras.

Fotos: Alberto Nasiasene. Nova Odessa SP.

Jardim Botânico do Instituto Plantarum.

Portanto, um Jardim Botânico e um trabalho de pesquisa aprofundada e sistemática como o do cientista Harri Lorenzi, no Instituto Plantarum, é um alívio (diante da mentalidade colonizada ainda fortemente predominante e diante da devastação) e um prosseguimento, aprofundando, da linha iniciada por Burle Marx e tantos outros pesquisadores que se debruçaram sobre a importância da flora brasileira, desde o século XVIII. Foi preciso os estrangeiros virem ao nosso solo para que, um século ou décadas depois, intelectuais como Burle Marx, descobrisse, na Alemanha, espécies que um Carl Philip von Martius havia descoberto e enviado para o solo germânico, desde que veio para o Brasil, em 1817 até 1820. Nunca mais ele voltou, mas o resto de sua vida dedicou ao estudo sistemático de nossa flora e produziu a maior obra botânica, na sua Flora Brasiliensis, que só agora, com Harri Lorenzi e outros pesquisadores, está se ampliando e aprofundando com o mesmo espírito sistemático e ansiedade de produzir o maior escopo de conhecimento sobre esta ampla e rica diversidade de espécies botânicas existente em nosso imenso território.

Fotos: Alberto Nasiasene. Nova Odessa SP.

Jardim Botânico do Instituto Plantarum.

Precisamos valorizar esta imensa riqueza, antes que muitas destas espécies desapareçam, com seu potencial estético e econômico sequer explorados minimamente.

Fotos: Alberto Nasiasene. Nova Odessa SP.

Jardim Botânico do Instituto Plantarum.

Vida longa ao Instituto Plantarum.

Alberto Nasiasene

Jaguariúna, 22 de fevereiro de 2015

Rota Mogiana de Alberto Nasiasene é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Compartilhamento pela mesma licença 3.0 Brasil.

Based on a work at www.rotamogiana.com.

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