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Ecologia não combina com neoliberalismo

Foto: Loretta Nasiasene Julho de 2014

Não se pode pensar o ecológico abstraindo-se do social, mesmo porque, quem pensa o ecológico é um ser social. Até prova em contrário, não consta que os primatas superiores, além e aquém do homo sapiens, pensem as relações ecológicas de modo mais abstrato e racional, elaborando conceitos baseados em metodologias de pesquisas. Portanto, é preciso ir além e dizer que pensar o social não pode ser de maneira a privilegiar o individualismo e o "sagrado direito de propriedade individual". Traduzindo estes princípios em palavras do jargão econômico, é preciso dizer que ecologia associada a conceitos econômicos neoliberais é o mesmo que preservação do status quo excludente e injusto (mantendo as tensões sociais sob controle de pressões econômicas exploratórias e sob o aparato repressivo militarizado).

Foto: Loretta Nasiasene Julho de 2014

Isto definido, precisamos agora problematizar os equívocos recorrentes, entre ecologistas e ambientalistas, que confundem as diversas formas e projetos desenvolvimentistas como se fossem uma única opção danosa (mas, geralmente, quem afirma tais disparates não está disposto a abandonar seu celular, deixar de usar seu microondas, seu computador, com banda larga, usar seu carro, pegando ônibus ou andando a pé, muito menos deixar de assistir seu programa televisivo favorito etc.). Desenvolver o quê e para quem, esta é que é a questão que devemos nos colocar antes de mais nada, ao pensar no processo socioeconômico de desenvolvimento.

Foto: Loretta Nasiasene Julho de 2014

Mesmo no mundo supostamente "pós moderno" e pós Muro de Berlim, há ainda a possibilidade visível de desenvolvimento industrial entre duas modalidades diferentes de sociedade, a capitalista e a socialista. Dentro destas modalidades há outras possibilidades diferentes, mas não iremos aqui detalhá-las. Basta citar a China (com socialismo de mercado ou seja lá como queiram defini-la), Cuba (em transição para uma realidade socioeconômica que ainda não sabemos direito como será), Vietnã, Coreia do Norte. Ou seja, concretamente, experiências históricas atuais de sociedades diferenciadas não regidas pela total liberdade de mercado, baseadas no princípio "sacrossanto" da propriedade privada dos meios de produção em detrimento do bem comum social. Por outro lado, citaremos Suécia, Finlândia, Noruega, Inglaterra, Holanda, Alemanha, Itália, Turquia, Egito, Índia, Brasil, Argentina, Canadá. Países baseados em uma economia de mercado, mas bem diferenciados entre si face a inúmeras questões estruturais econômicas e face a políticas econômicas também diferenciadas. Portanto, nos dois grandes grupos de países apontados, no lado socialista realmente existente neste momento histórico de início do século XXI e no lado do capitalismo realmente existente também neste século XXI, em seu início, o que vemos é uma multiplicidade de processos de desenvolvimento econômico e industrial que não podem ser reduzidos a um conceito restritivo e abstrato do que vem a ser "desenvolvimentismo."

Foto: Loretta Nasiasene Julho de 2014

Falar em desenvolvimentismo no Brasil, confundindo as perspectivas de um Celso Furtado com a do "milagre econômico" da ditadura militar é ser completamente desinformado em termos conceituais e em termos de conhecimento empírico de história econômica. Não dá para confundir o que propunha Celso Furtando, dentro da economia de mercado capitalista brasileira, no final da década de 1950 e início da década de 1960, com o que os economistas da ditadura militar fizeram no final da década de 1960 e na década de 1970. Dizer que tudo não passa de um mesmo processo econômico chamado genericamente de "desenvolvimentismo" é confundir alhos com bugalhos (quanto aos ingênuos e desinformados, é só uma questão de ignorância, quanto aos velhacos, é pura má fé mesmo).

Foto: Loretta Nasiasene Julho de 2014

Os piores danos ambientais e crimes ecológicos cometidos pelo processo de desenvolvimento econômico brasileiro, de meados do século XX em diante, dizem respeito ao tipo de desenvolvimentismo dependente, baseado no grande capital internacional, predador e colonizador em proveito das matrizes, autoritário, concentrador de renda, truculento face às classes dominadas (é preciso lembrar que não havia o direito de greve e também lembrar do arrocho salarial promovido para aumentar as margens de lucros ainda mais, provocando maior concentração de renda ainda e aumento da pobreza absoluta como contrapartida). Foi este desenvolvimento econômico, tão duramente analisado e criticado na obra de Celso Furtado (que estava exilado exatamente porque fazia parte de um outro bloco histórico derrotado em 1964), que iniciou o maior processo de devastação da floresta amazônica brasileira, atropelando e exterminando povos indígenas inteiros (um genocídio só comparável ao processo histórico colonial liderado pelos bandeirantes paulistas).

Foto: Loretta Nasiasene Julho de 2014

Portanto, alto lá quem pensa que se pode frear o desenvolvimento brasileiro em nome de um suposto respeito para com a floresta. Quem apoia tal disparate é a mesma velha classe média udenista/atucanada hipócrita de hoje, que anteriormente apoiou vigorosamente o processo econômico patrocinado pela ditadura militar e dele tirou o maior proveito (tanto que seus bens e sua riqueza atual são, em grande parte, constituídos por este capital acumulado previamente durante o período da ditadura militar). Para eles, não interessa desenvolver mais ainda o país em favor das classes populares (imagina que eles querem abrir mão voluntariamente de seus próprios privilégios socioeconômicos de classe em prol da causa da diminuição drástica das desigualdades sociais; afinal, quem irá cozinhar, lavar seus pratos, trocar as fraldas de seus bebês, dirigir seus automóveis, fazer a faxina em seus lares etc.?). Portanto, o suposto ecologismo de salão, para eles, vem bem a calhar (como desculpa para ocultar interesses políticos e econômicos nada louváveis).

Fotos: Loretta Nasiasene Julho de 2014

Isto quer dizer que precisamos encarar a discussão econômica e ambiental a partir de uma profunda crítica ao neoliberalismo, coisa que nem o PV, nem a Marina, vem fazendo (e não adianta nada virem com medidas superficiais que não atacam o problema principal da organização e existência econômica de nossa sociedade, baseada ainda em um capitalismo tardio e dependente em cima de altas margens de lucros e baixos salários para o homem trabalhador da base social). Um país do porte do Brasil não pode ser governado como se governam as Bahamas (muito menos as Ilhas Virgens). Além disso, não dá para testar hipóteses (amadoras) em nome de uma governança supostamente verde, como aconteceu em Natal, com a tal deplorável Micarla PV, suposta prefeita verde de última hora que nada entendia de ecologia, nem de economia, muito menos de governar para a solução dos graves problemas sociais e urbanos de uma capital como a dos potiguaras.

Manaus, ao fundo. Foto: Loretta Nasiasene Julho de 2014

É preciso trazer novos elementos para a discussão da tal "sustentabilidade" do desenvolvimento, preservando e respeitando tanto o meio ambiente, quanto a ecologia de nossos biomas, mas sem misturá-los com velhos princípios econômicos de um neoliberalismo ultrapassado e desastroso para a história do mundo em que vivemos (não dá para esquecer 1929 e 2008, como se estes pontos focais históricos nada tivessem a ver com o fracasso criminoso das políticas de inspiração neoliberal sobre o mundo em que vivemos).

Alberto Nasiasene

Jaguariúna, 14 de agosto de 2014

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