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Não adianta defender a Amazônia e nada fazer pela Floresta Atlântica


Estou farto destes falsos ecologistas de fim de semana que pensam que defender a natureza é ir a alguma cachoeira se divertir e receber supostas "vibrações" de cristais e ETs (já vi alguns deles abraçarem árvores como se abraça um amuleto, mas não têm a menor ideia de qual árvore estão abraçando). Estão dispostos a serem arrebanhados pela grande imprensa oligárquica (capitaneada pela Globo, Folha de São Paulo, Estadão e o escambau) em prol de campanhas anti Belo Monte só para sabotar a economia guiada pela Dilma (mas se fosse algum FHC da vida estariam aceitando muito naturalmente a privatização de usinas hidrelétricas, mesmo em meio à floresta, como parte do sagrado direito de propriedade privada que não se discute). Entretanto, nada fazem para defender o que restou da Floresta Atlântica em seus quintais, em seus condomínios, em seus bairros, em suas cidades, em seus estados e em suas regiões (e não estão dispostos a protestar contra a invasão de terrenos da Floresta Atlântica no litoral sul do estado do Rio de Janeiro, porque, afinal, trata-se da casa dos coronéis da rede Globo de televisão e eles precisam dos empregos dos novelões para viajarem para Nova York, Miami, ou Paris, por exemplo, com regularidade); preferem, comodamente, fazer seus protestos assépticos através de propagandas televisivas (porque, afinal, ainda faturam com a imagem que constroem junto aos jovens, bancando os verdinhos comprometidos).

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A devastação profunda que se deu na Floresta Atlântica, desde que os portugueses pisaram o solo de Pindorama, em 1500, não acabou ainda (os dados oficiais dizem que os estados que mais desmataram esta floresta no ano, 2011, passado foram Minas Gerais e Bahia), mas os tais ecologistas de fim de semana e barzinho (e propaganda da Globo) só falam do desmatamento lá longe, na Amazônia (é claro que não estou a afirmar que não se deve lutar contra o desmatamento na Amazônia, o que não aceito é a hipocrisia de nada se fazer pela Floresta Atlântica sob a qual vivemos enquanto se fala de Amazônia que se fossem profundos conhecedores da causa).

Imagens de internet - Acima vemos fotos de desmatamento recente não na Amazônia mas na Mata Atlântica

Portanto, não adianta nada pensar que a causa da defesa da preservação ambiental tenha avançado muito neste novo século só porque existe agora este modismo supostamente verde (e consumível) de classe média alienada. Esta mentalidade é absolutamente inócua, superficial e não detém o processo de desmatamento ainda em curso no que restou da Floresta Atlântica (claro, as donas de casas e mocinhas não gostam nenhum pouco de terem que conviver, como vizinhas, com as pererecas da Mata Atlântica em Ubatuba, por exemplo).

Imagens de internet. Os macacos são importantíssimos, mas os insetos também

Enquanto a população, de modo geral, não conhecer as árvores da Floresta Atlântica pelo nome que elas têm (pelo menos o nome popular, geralmente de origem indígena), veremos o disparate de termos pessoas defendendo árvores que vieram da África, da Austrália, da Europa e da América do Norte como parte da natureza e ecologia que devemos preservar. Nossas cidades precisam ser arborizadas com árvores nativas em detrimento das árvores exóticas se é que queremos realmente ajudar a restaurar o equilíbrio ecológico perdido com o profundo e devastador desmatamento desta Floresta bela e riquíssima que está bem à nossa frente (e à nossa volta), a chamada Mata Atlântica. Os poderes públicos municipais, por exemplo, deveriam criar leis que obriguem os departamentos de parques e jardins dos municípios brasileiros a plantarem somente árvores nativas, nunca árvores exóticas (ao se fazer isto, por dentro das cidades, estamos colaborando com a restauração do equilíbrio ecológico perdido). Cadê a ação política do tal PV (nenhuma lei que obrigue os poderes públicos municipais e estaduais a plantarem árvores nativas dentro das zonas urbanas e à beira das estradas)? Aliás, o Zequinha, o Sirkis e o Gabeira sabem mesmo distinguir uma árvore exótica de uma árvore da Mata Atlântica pelo nome? E a Marina?

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Como conciliar as supostas secretarias do meio ambiente, com parques e jardins que plantam qualquer tipo de árvores e vegetais nas calçadas, nas praças e nos jardins?... A transformação da mentalidade anti-tropical que a colonização portuguesa nos gerou poderia muito bem ser começada por aqui mesmo, pelos departamentos de parques e jardins obrigados, por lei, a plantarem no perímetro urbano, árvores, arbustos e plantas de origem local (mais adaptadas evolutiva e ambientalmente para enfrentar as condições climáticas locais e mais adequadas para alimentar a fauna e os imprescindíveis insetos que são parte integrante da ecologia local). Não sabem quais são as árvores nativas da Mata Atlântica? Que tal comprar os livros do Instituto Plantarum? É preciso identificar também as árvores exóticas (ou seja, que não são brasileiras, nem da Mata Atlântica), para não continuar a plantá-las indiscriminadamente nas cidades que estão exatamente em território original da Floresta Atlântica. Ecologia começa também, para além do quintal e do jardim interno, na calçada da casa. Burle Marx dizia que ficava pasmo que, mesmo em plena Amazônia, as praças de cidadezinhas ribeirinhas eram "ornadas" com árvores que nem brasileiras eram.

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Vejam bem, no próprio nome que é atribuído à Floresta Atlântica vemos como a cultura luso-brasileira tratou a floresta que estava inteiramente dentro do território do Tratado de Tordesilhas (se não fosse pelos bandeirantes paulistas e pelas missões católicas portuguesas, não teríamos, a esta altura, a Amazônia; porque aquele território estava sob o que deveria ser a parte espanhola da América e seria, provavelmente, hoje, parte da Venezuela, da Colômbia, do Peru, da Bolívia e do Paraguai). Ou seja, não se fala FLORESTA ATLÂNTICA, mas MATA (que tem um significado mais restrito e urbano do que o de floresta).

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Por isto mesmo é que me esforço em usar mais a terminologia FLORESTA ATLÂNTICA do que Mata Atlântica (embora, é claro, não queira fazer da terminologia um cavalo de batalha). O que quero chamar atenção é para o fenômeno da mentalidade devastadora anti-tropical e anti-floresta que ainda permanece presente em nosso inconsciente coletivo cultural mesmo com o aparente avanço da causa ecológica entre a classe média e entre a juventude universitária.

Imagens de internet. Uma floresta pode muito bem conviver com uma cidade pacificamente, como vemos na foto

Um dos primeiros efeitos psicológicos que senti, ao entrar, pela primeira vez, no território da Floresta Atlântica paulista, na reserva do Núcleo de Santa Virgínia, em São Luiz do Paraitinga, estado de São Paulo, foi a admiração pela beleza da floresta enquanto floresta (de modo algum aquela paisagem é um suposto "inferno verde"; está mais para a expressão judaico-cristã de "paraíso verde" que foi perdida no jardim do Éden).

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Como podemos dizer que queremos preservar a floresta se nem conhecemos os nomes das suas árvores e de suas espécies vegetais?... Portanto, é imprescindível que os poderes públicos municipais, estaduais e federais, além de instituições de pesquisas públicas, voltem suas atenções para a pesquisa da Mata Atlântica, da Caatinga, do Cerrado etc. (como política de Estado permanente, não como política de governo transitória e personalista). Para preservar eficientemente, é preciso conhecer. Além disso, inúmeras possibilidades científicas (farmacológicas, econômicas etc.) estão encobertas dentro dos biomas brasileiros e não podemos deixar que os estrangeiros venham aqui e nos levem de nós este conhecimento (patenteando o patrimônio que é nosso).

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Depois, em outra postagem, falarei sobre o problema que a ênfase excessiva no estudo dos animais da floresta tropical pode causar, como efeito colateral, à educação ambiental da população em geral. Isto é, como a maioria dos seres vivos (e das espécies viventes sob a floresta tropical, seja a Atlântica, seja a Amazônica) consiste de vegetais (só de espécimes de árvores, temos, no Brasil, mais de 3 000; enquanto que nas florestas temperadas este número não passa de algumas dezenas); por mais que tenhamos uma rica fauna que só ocorre nas Américas tropicais, a quantidade de espécies vegetais e insetos é imensamente maior (e conhecemos quase nada sobre áreas importantes do conhecimento sobre estas espécies; é hora de despertar para o estudo destas áreas neglicenciadas, porque muitas destas espécies vegetais e de insetos estão sob o risco de extinção).

Alberto Nasiasene

Jaguariúna, 1 de julho de 2012

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Based on a work at www.rotamogiana.com.

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