Brasília e seu ambiente - O cerrado domesticado no Parque Olhos d'Água
Como já disse aqui em outras postagens, em Brasília, nos começos, o cerrado era considerado uma vegetação feia que devia ser erradicada. Ninguém conseguia ver o cerrado como algo a ser preservado (a não ser os raros biólogos e ecologistas daqueles tempos em que o equilíbrio ecológico planetário não estava na moda). Como a Asa Norte foi a última parte do plano piloto a ser construída, feliz ou infelizmente, em uma área destinada a ser mais duas superquadras de prefixo 400, havia algumas nascentes que alimentavam o lago do Paranoá. Além disso, o terreno era constituído de uma depressão típica de áreas de vales ou ravinas, portanto, era necessário fazer uma terraplanagem que destruiria não só a vegetação e a nascente, mas a conformação do terreno (ação típica dos primeiros tempos da construção da cidade, na segunda metade dos anos 1950 e nos anos 1960).
As superquadras que circundam o parque são das mais modernas, porque são de construção mais recente. Brasília 21 de janeiro de 2011. Foto: Alberto Nasiasene
Talvez tenha sido esta dificuldade original que tenha adiado para mais tarde as obras de terraplanagem e as futuras construções de blocos de apartamentos na área em que seriam as futuras superquadras da Asa Norte. A natureza, nesta "manobra temporal," conseguiu ganhar tempo e, por causa deste "expediente", esta área não obedeceu ao que estava planejado para ela. Ou seja, houve um clamor social para que a área fosse preservada como estava e transformada em um parque, não em duas superquadras. Não posso descrever o processo histórico que foi o impulso para a preservação desta área, porque não o conheço (gostaria de saber mais sobre estas pessoas que estiveram envolvidas neste movimento e como foi que elas conseguiram mudar este aspecto do plano piloto). Entretanto, quero destacar aqui neste post a grande conquista que ele representou em termos de cidadania e preservação ecológica.
No núcleo do parque é possível ter uma ideia de como era o ambiente original de Brasília, porque o cerrado que conheci em minha infância, antes dele ser totalmente destruído, ainda está presente. No fim do ano, com a estação das chuvas no Centro-Oeste, o cerrado permanece verdinho e úmido, mas, durante o meio do ano, com a estação do outono-inverno, esta realidade se inverte e o cerrado fica seco, especialmente as espécies gramínieas que secam completamente. Brasília 21 de janeiro de 2011. Foto: Alberto Nasiasene
Uma palmeira típica do cerrado. Brasília 21 de janeiro de 2011. Foto: Alberto Nasiasene
As árvores do cerrado são mais dispersas do que em uma floresta, além disso não são muito altas e têm um tronco com casca grossa e folhas mais espessas, muitas vezes, revestidas por um verniz que as defende da evaporação mais fácil na estação seca prolongada.Brasília 21 de janeiro de 2011. Foto: Alberto Nasiasene
A vegetação do cerrado mais próxima dos cursos d'água é muito semelhante à da Floresta Atlântica, por causa da abundância de água durante todo o ano (de modo que o cerrado nada tem a ver com a vegetação da caatinga nordestina, porque seu período de estiagem não passa de alguns meses e porque os cursos d'água da região são perenes e correm o ano todo). Aqui vemos uma pequena lagoa alimentada pelos olhos d'água. Estas águas irão desembocar no lago do Paranoá. Brasília 21 de janeiro de 2011. Foto: Alberto Nasiasene
As pistas na periferia do parque..Brasília 21 de janeiro de 2011. Foto: Alberto Nasiasene
Entretanto, apesar de reconhecer este avanço inicial, quero também fazer algumas ponderações e problematizações a respeito da tal consciência ecológica que supostamente vemos no início do século XXI. A maioria da população não distingue, em Brasília ou qualquer outra parte do país, qual é a diferença ecológica entre um eucalipto e um ipê amarelo, entre uma mangueira e uma jabuticabeira, entre um pinheiro e um pequizeiro, desde que sejam árvores. Chamar este tipo de consciência "verde" de ecológica é um despropósito. Ao contrário, sinto que estamos muito longe ainda de uma verdadeira consciência ecológica. Por exemplo,neste parque de Brasília (que seria uma área de preservação do cerrado), infelizmente, vejo a invasão de espécies que nada tem a ver com o cerrado (provavelmente alguém as introduziu para "embelezar o lugar" sem perceber que estava quebrando o frágil equilíbrio ecológico ainda existente nesta que é uma das últimas áreas urbanas de cerrado existentes em Brasília). No meu entender, esta área deveria ser cuidada por técnicos especializados que tenham conhecimento científico mínimo para realmente garantirem a preservação deste nicho (e, ao que parece, não se vê a presença, pelos inúmeros indícios, de uma polícia ou política florestal e ambiental que possa realmente garantir a preservação da ecologia do local, evitando a invasão de espécies exóticas que nada têm a ver com a ecologia do cerrado).
Não adianta nada as placas supostamente ecológicas, se o parque não é preservado.
Brasília 21 de janeiro de 2011. Foto: Alberto Nasiasene
O sisal não é uma espécie do cerrado e estes exemplares aqui claramente foram plantados para obter apenas um efeito estético (mas isto não pode acontecer em uma área de preservação ambiental). Brasília 21 de janeiro de 2011. Foto: Alberto Nasiasene
Este não deveria ser mais um parque urbano, porque tem um caráter a mais, o de preservação de uma pequena amostra do que era o ambiente original de Brasília.Tudo bem com relação aos equipamentos urbanos típicos de um parque para os exercícios físicos, desde que o ambiente serja preservado em seu núcleo. Brasília 21 de janeiro de 2011. Foto: Alberto Nasiasene
Não adianta nada as placas supostamente ecológicas, se o parque não é preservado.
Brasília 21 de janeiro de 2011. Foto: Alberto Nasiasene
Não adianta nada as placas supostamente ecológicas, se o parque não é preservado.
Brasília 21 de janeiro de 2011. Foto: Alberto Nasiasene
Não adianta nada as placas supostamente ecológicas, se o parque não é preservado.
Brasília 21 de janeiro de 2011. Foto: Alberto Nasiasene
Não adianta nada as placas supostamente ecológicas, se o parque não é preservado.
Brasília 21 de janeiro de 2011. Foto: Alberto Nasiasene
Consciência ecológica é algo mais do que reciclar certos materiais destinados ao lixo. Brasília 21 de janeiro de 2011. Foto: Alberto Nasiasene
Alberto Nasiasene
Jaguariúna, 20 de fevereiro de 2010
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