Vladimir Carvalho - o mestre que sonhei ter
Não seria exagero de minha parte dizer que, em meu documentário A Cinememória de Vladimir Carvalho, o autor de O País de São Saruê é meu parceiro. Ao dizer isso, não estou somente pensando no momento concreto da filmagem de meu encontro com ele na Fundação Cinememória, em Brasília, em janeiro de 2009, mas também no momento em que ele me orienta quanto ao roteiro, no segundo dia da filmagem, em janeiro, e agora, em julho, sugerindo, concreta e especificamente, melhoramentos estéticos e estilísticos no documentário que resultou preliminarmente (o copião) das filmagens de janeiro e que fui lhe mostrar nas férias do meio do ano. Como as fotos estão documentando, aqui embaixo, é possível ver que não estou delirando não. É isto mesmo. Vladimir Carvalho é o co-roteirista de meu segundo documentário. Para mim, é uma grande honra poder apresentar este documentário de um principiante temporão com o logotipo dele, Vertovisão. Afinal, o documentário resultou de um encontro real entre o aprendiz (com uma câmera digital amadora da Sony) e o mestre do moderno cinedocumentário brasileiro (em película), como uma aula gravada que ele dá, em seu projeto pessoal de cinemateca no coração da república, chamado de Fundação Cinememória. A aula que ele dá não é somente sobre a história da implantação do cinema documentário em Brasília, mas também sobre sua memória de cineasta professor universitário na UnB, explicando, paralelamente, suas concepções cinematográficas e seu processo criativo. Nunca imaginei que teria esta honra, muito menos que esta experiência pudesse ser gravada em forma de documentário na linha do Cinema Verdade, justamente com o cineasta que foi o assistente de direção de Aruanda (filme que impactou o próprio Glauber Rocha, nas palavras do próprio Glauber, que ainda não tinha lançado o Barravento).
Alberto Nasiasene, com Vladimir e Socorro em Brasília, julho de 2009. Vladimir está assistindo, pela primeira vez, na televisão, o resultado (o copião) do documentário começado em janeiro deste ano. Observem o papel que estava ao lado dele. Naquele papel ele foi anotando, no mesmo momento em que via, suas impressões e suas indicações estéticas para o melhoramento do documentário. Como ele, grande clássico e diretor do cinema documentário brasileiro cinemanovista, homem da película (irmão mais velho e tio de dois grandes diretores de fotografia do moderno cinema brasileiro, Walter Carvalhoe Lula Carvalho), tem um olhar e um ouvido muito apurados, evidente que viu detalhes que precisavam ser melhorados na estética do documentário. Por causa disso, o papel ali ao lado foi registrando coisas que eu não via e não ouvia, que precisavam ser cortadas (e foi o que fiz, ao voltar para casa, em Jaguariúna, onde moro). O momento em que apareço ao lado dele, fotografado por Socorro, é o momento em que ele está me sugerindo os cortes e indicando como deveria aparecer as cartelas introdutórias. Portanto, as fotos, para mim, que sou historiador, são também documentos que comprovam minha parceria real com ele (não é meramente um sonho onírico, ou um delírio surrealista, ou psicótico, em minha subjetividade de documentarista digital que me pretendo; é concretude histórica dialética mesmo).
Vladimir ainda continua dizendo que eu estou muito parecido com o Lênin. Como já disse anteriormente, isto, para mim, tem um significado afetivo muito profundo (mesmo que eu não seja um leninista, embora continue sendo socialista e ainda tenha Marx como meu grande referencial teórico). Sou apenas um professor de história com uma câmera na mão, tentando captar certos elementos da sociedade onde vivo (e de minhas memórias afetivas), no estado de São Paulo e no início deste século XXI. Obrigado, Socorro. Obrigado, Vladimir. Estou muito feliz por ter realizado este sonho.
Xilogravura digital virtual em homenagem ao xilogravurista real que é Vladimir Arte digital: Alberto Nasiasene
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