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Mostra do cinema de Vladimir Carvalho no MIS em Campinas


Capa do livro do Centro Cultural do Banco do Brasil sobre a Mostra Retrospectiva dos filmes de Vladimir Carvalho, quando ele completou 70 anos, em 2005

Cartaz da Mostra Vladimir Carvalho Arte: Ronaldo Simões Gomes

Capa e contra-capa do fôlder sobre a Semana Vladimir Carvalho No MIS-Campinas SP

O MIS-Campinas MIS

Capa da biografia de Vladimir Carvalho escrita pelo jornalista Carlos Alberto Mattos

Vladimir Carvalho virá a Campinas para participar da Mostra Vladimir Carvalho no Museu da Imagem e do Som (MIS) de Campinas. Ele estará conosco no dia 4 e 5 de novembro de 2009.

Vladimir Carvalho é um dos fundadores do moderno cinedocumentário brasileiro e um clássico na história do documentário que ainda está ativo e produzindo documentários histórico-culturais e político-sociais importantes para o cinema brasileiro. Sempre costumo dizer que não estamos re-inventando a roda sozinhos, neste mundo digital que o cinema está se tornando gradualmente, neste século que se inicia, porque partimos de todo um patrimônio histórico de excelência, anterior, gerado na era da película durante todo o século XX. Vladimir Carvalho é um dos alicerces deste patrimônio histórico do cinema brasileiro, na segunda metade do século XX. Pelo menos quanto a mim, iniciante temporão na geração de documentários digitais, em parceria com o MIS-Campinas, de modo algum penso que estou começando do zero, mas sabendo que parto de um solo e de alicerces históricos duramente construídos e só me interessa construir uma obra dentro da tradição de um Vladimir Carvalho de reverência pela cultura popular brasileira, mas a partir de uma busca consciente de uma síntese de qualidade, com profundidade social e crítica, entre o erudito e o popular de nossa riquíssima tradição histórica.

O cinema novo, movimento ao qual Vladimir esteve e está ligado (como uma de suas vertentes, que não desapareceu com a morte de Glauber Rocha, em 1981, mas seguiu o seu rumo histórico até o início do século XXI) só se construiu em terras brasileiras porque houve precursores tais como Humberto Mauro (e o Glauber soube sim valorizar esta herança, é só ler o livro que ele escreveu ainda jovem, Revisão Crítica do Cinema Brasileiro). Isto quer dizer que, segundo penso, o documentário cinematográfico brasileiro no século XXI só se tornará um veio fértil e criativo se estiver profundamente enraizado na obra de clássicos como Vladimir (que é um dos fundadores principais do moderno cinedocumentário brasileiro que colocou nossa produção documentária na altura de um Robert Flaherty e um Jean Rouch, marcos renovadores de um gênero).

No alto, Vladimir Carvalho, muito jovem ainda, filmando seu primeiro documentário autoral, após a experiência como assistente de direção e roteirista de Aruanda (o documentário que inaugurou, junto com Arraial do Cabo, de Paulo César Saraceni, o moderno documentário brasileiro) em parceria com João Ramiro Mello. A foto acima mostra Vladimir com o irmão Walter Carvalho, também diretor de cinema e o sobrinho Lula Carvalho, filho do Walter, também cineasta e diretor de fotografia.

São estes os filmes que integrarão a mostra, na primeira semana de novembro de 2009: O País de São Saruê 1971 - 80 minutos Curta: A Bolandeira 1967 - 10 minutos

Walter Carvalho, jovenzinho, na filmagem do filme O País de São Saruê

Capa e contra capa do DVD (semi restaurado) do documentário O País de São Saruê

Sinopses:

O País de São Saruê: Primeiro longa metragem de Vladimir. Num primeiro momento, podemos dizer que, com o título inspirado em um folheto de cordel, O País de São Saruê contrasta as potencialidades do sertão nordestino com a luta dos homens contra a seca, o latifúndio e a miséria desde os tempos coloniais. Entretanto, para além deste conteúdo, o documentário revela também, esteticamente, a estrutura da literatura de cordel (está montado como se fosse um folheto de cordel, narrado por uma voz poética que recita uma poesia escrita especialmente para o filme) e a utopia messiânica da cultura popular brasileira que remonta não só a Euclides da Cunha e José Lins do Rego, mas a Deus e o Diabo na Terra do Sol. O filme foi realizado ao longo de quatro anos, na região do Rio do Peixe, na Paraíba, e permaneceu oito anos interditado pela Censura Federal da ditadura militar. Impôs-se desde o primeiro momento como obra-prima do ensaio documentário brasileiro, com repercussão internacional, destacando-se pela contundência do tema e a qualidade poética da narrativa. Prêmio Especial do Júri no Festival de Brasília.

A Bolandeira: Um filme que documenta poeticamente a sobrevivência de um antigo mecanismo de madeira, de remotas raízes coloniais, de uma engenhoca de rapadura existente no sertão do Rio do Peixe. Relevante contribuição para a preservação deste patrimônio histórico material e imaterial da história brasileira que serviu de inspiração para a chamada retomada do cinema brasileiro na década de 1990, através de um filme como Abril Despedaçado de Walter Salles. Portanto, o próprio filme, em si mesmo, além de ser um importante documento de uma época, é também importante patrimônio não só do cinema nacional e universal, mas da história e cultura brasileira.

O Engenho de Zé Lins 2007 - 80 minutos Vila Boa de Goyaz 1974 - 19 minutos

Vladimir filmando O Engenho de Zé Lins

Sinopses

O Engenho de Zé Lins: Último longa (o sexto, em ordem cronológica) lançado de Vladimir Carvalho, traça o perfil cinebiográfico do escritor paraibano José Lins do Rego, enfocando desde os tempos de sua infância, no ambiente que imortalizaria em romances como Menino de Engenho, ligados ao ciclo da cana-de-açúcar, até sua maturidade, na década de 1950. Ao lado de outras manifestações de sua marcante figura humana, o documentário apresenta o homem solidário e afetivo, o amigo fiel, o amante apaixonado pelas coisas simples da vida e pelo povo. Segundo Carlos Alberto Mattos, o título do filme faz alusão, ao mesmo tempo, ao engenho de açúcar paraibano, visto aqui como lugar de origem da personalidade de José Lins do Rêgo, mas também como sinônimo para o talento com que o escritor engendrou vida e invenção em sua obra. Mas, segundo Mattos, ali está também o engenho de Vladimir como cineasta. Embora em idades diferentes, ambos dividiram o cenário de Itabaiana, interior da Paraíba, onde José Lins viveu e Vladimir Carvalho nasceu. Zé Lins foi o ídolo da infância de Vladimir. Vila Boa de Goyaz: O curta revela não só a antiga capital colonial de Goiás, em seu processo histórico transformador e descaracterizador, na década de 1970, mas também uma importante personagem para a história da literatura brasileira contemporânea, que ainda era desconhecida do grande público, Cora Coralina. Este filme contribuiu com a divulgação da pessoa e da obra da poeta goiana, já idosa na época.

Vladimir filmando Cora Coralina

O Evangelho Segundo Teotônio 1984 - 80 minutos A Pedra da Riqueza 1976 - 16 minutos

Sinopses:

O Evangelho Segundo Teotônio: Terceiro longa de Vladimir Carvalho, enfocando o ex-senador Teotônio Vilela que promovia, em fins da década de 1970 e início da década de 1980, uma campanha pela redemocratização da sociedade brasileira e em prol da anistia. O documentário tenta apreender a vida, a obra e o pensamento do então chamado Menestrel das Alagoas, que abandonou seu partido de origem, a ARENA, pelo MDB, no período que antecedeu a chamada Abertura do último governo militar. O documentarista Vladimir, com sua equipe, acompanha parte da caminhada do ex-senador, doente terminal de câncer, em busca do estabelecimento dos primeiros alicerces da redemocratização da sociedade brasileira pré-1985. Importante contribuição para o estudo das contradições históricas em personalidades políticas brasileiras. Ganhou a Margarida de Prata da CNBB, como melhor longa documentário. A Pedra da riqueza: Assim como A Bolandeira, este é um dos curtas surgidos em torno do primeiro longa de Vladimir, O País de São Saruê. Aborda a mineração de minério raro, no sertão da Paraíba, empregado na construção de foguetes espaciais. As condições de exploração do minério são tão duras quanto a exploração do trabalho dos mineradores. Um documentário social narrado por um antigo minerador neste garimpo, em diálogo com Vladimir Carvalho, então professor de cinema da UnB. Margarida de Prata da CNBB. Melhor curta documentário.

Barra 68 2000 - 80 minutos Brasília Segundo Feldman 1979 - 21 minutos

Sinopses: Barra 68: Um documentário sobre os duros acontecimentos da repressão policial da ditadura militar ao movimento estudantil na Universidade de Brasília (UnB), com o relato e as memórias dos sobreviventes. Dois de seus personagens principais são o último presidente da UNE, no pós 1968, Honestino Guimarães, desaparecido nos porões da tortura da ditadura militar, sem que o corpo jamais tenha sido encontrado, visto através da memória de seus amigos e de sua mãe, e Darcy Ribeiro, o fundador intelectual e primeiro reitor da UnB no pré 1964. Brasília Segundo Feldman: É um documentário que aproveita as imagens inéditas de um designer americano que trabalhou em Brasília, na época de Juscelino, captando o cotidiano dos operários da nova capital. Estas imagens são narradas por um líder sindical de esquerda, da construção civil em Brasília, no tempo da construção, Luís Perseghini. Aqui vemos novamente o olhar excluído da história, o das classes dominadas, no momento em que se ergue uma obra monumental que muda os destinos da história brasileira.

Vladimir Carvalho e o irmão Walter Carvalho filmando na esplanada dos ministérios em Brasília

Conterrâneos Velhos de Guerra 1991- 168 minutos

Monumento em memória dos candangos trucidados pela GEB

Sinopse: Considerado o ponto alto do ciclo de filmes sobre Brasília e o Centro Oeste na obra de Vladimir Carvalho (que tem estas duas vertentes: os filmes nordestinos do ciclo paraibano e os filmes sobre Brasília e o Centro Oeste brasileiro), este quarto longa metragem é o resultado de mais de vinte anos de investigação sobre os bastidores históricos da construção da nova capital, vistos pela ótica dos operários que construíram Brasília, os candangos. O longa circula em torno do desvendamento do misterioso tabu que cerca o massacre de operários da construção civil em greve, da empreiteira Pacheco Fernandes, ocorrido durante a construção da nova capital, pela então guarda especial de Brasília, Geb. Pela primeira vez, a memória coletiva destes trabalhadores da construção civil, excluída na historiografia política tradicional do país, é colocada como protagonista de um documentário focando a epopéia da construção de Brasília vista pelo ponto de vista do trabalhador comum que a construiu. Um filme social sobre uma tragédia silenciada. Kikito de melhor documentário no Festival de Gramado.

O filme projetado na Vila Planalto (local da chacina), onde ficava o acampamento da Pacheco Fernandes. Hoje a Vila Planalto, perto de onde fica o Palácio do Planalto, é um local tombado como patrimônio histórico (com suas casas de madeira) que não pode ser alterado.

Vladimir Carvalho foi homenageado com o Troféu Eduardo Abelin, em 2006, pela obra completa de documentarista, durante o 34º Festival de Gramado – Cinema Brasileiro e Latino.

Vladimir filmando um de seus documentários (que não consta desta mostra), A Paisagem Natural

Alberto Nasiasene Jaguariúna, 30 de setembro de 2009

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