Estou voltado para o futuro digital
Preciso fazer certas considerações genéricas sobre minha visão a respeito da era digital imagética, sem a qual jamais poderia, a estas alturas de minha vida, me aventurar na produção e direção de documentários. Não digo que esta tenha sido uma descoberta tardia em minha vida, ao me aproximar dos cinquenta anos, porque, na verdade, desde cedo, no final de minha infância e início de adolescência, já estava mergulhado na atmosfera do cinema documentário, através da influência direta e indireta de Vladimir Carvalho em Brasília. O que me aconteceu, no decorrer do curso da pedagogia da imagem no MIS-Campinas, foi uma profunda ebulição destas memórias intelecto-existenciais e afetivas que estavam em um substrato neurológico mais profundo em meu cérebro e foi esta ebulição que fez se romper um "coágulo" que impedia o acesso de minha memória mais recente a estas memórias mais antigas e mais profundas. Isto só se tornou possível porque estas memórias que retornaram, me encontrando já na "meia idade," puderam desabrochar como estão desabrochando em meio a esta era digital que torna os custos de produção mais baixos. Sem isto, como na era da película e do analógico, jamais poderia ousar o que estou ousando (porque não tenho mais tempo de vida para tentar garimpar financiamentos onerosos para a produção de documentários).
As fotos de Vladimir Carvalho em Campinas que estão aqui neste post são mais um ensaio fotográfico digital paralelo que faço, como homenagem e gratidão minha a ele (por ter vindo a Campinas para esta mostra) e à importância de sua filmografia documentária par ao cinema brasileiro. De certa forma, ao escrever o conteúdo deste post, estava pensando nele e, portanto, este também é um diálogo com ele a respeito deste tema. Foto: Alberto Nasiasene
Portanto, por isto mesmo é que afirmo que, no meu entender, baseando-me nas evidências históricas concretas ora em curso, a tecnologia digital irá substituir inteiramente a tecnologia analógica da película. Os princípios científicos continuam os mesmos (dentro do universo concreto em que vivemos e das propriedades da matéria), mas os suportes onde a captação e reprodução da luz ambiente eram e são registrados é que estão passando pela transição dos processos químicos para os eletrônicos e quânticos. Desde a invenção da fotografia, por volta de 1840, a captação/reprodução das imagens tem sido um processo físico-químico. Entretanto, com a emergência da tecnologia digital binária, eles estão migrando, cada vez mais, para o seu polo físico-quântico (não que os processos químicos tenham sido total e radicalmente eliminados, porque, mesmo na tecnologia digital, ainda são empregadas as tintas, em certos casos).
Vladimir Carvalho sai do camburão para entrar na história do MIS Campinas (o cinema militante implica riscos) Foto: Alberto Nasiasene
No início desta revolução tecnológica no interior do processo de captação/reprodução das imagens (processo revolucionário só comparável à revolução analógica que inventou a grafia dos fótons em dois tipos de suportes: o suporte do celuloide e o suporte do papel), havia muita desconfiança e muitas dúvidas na maioria dos profissionais e amadores dedicados ao universo da fotografia e do cinema. É claro, havia razões consistentes para que eles não embarcassem no otimismo autoconfiante dos entusiastas de primeira hora da tecnologia digital. A qualidade técnica e estética das primeiras câmeras digitais deixava muito a desejar face aos grau de qualidade e sofisticação já alcançados nos processos físico-químicos da fotografia e do cinema analógico. Entretanto, muitos dos que eram (e ainda são) resistentes à transformação digital da tecnologia analógica da captação/reprodução de imagens, equivocadamente, pensavam (e pensam ainda) que era a própria natureza íntima da tecnologia digital que impunha um padrão de qualidade menor das imagens das primeiras câmeras digitais que apareceram. O equívoco aqui consiste em pensar que não haveria (e continuará a haver) um aperfeiçoamento contínuo da tecnologia digital de captação/reprodução de imagens que levaria (e continuará a levar) à superação das barreiras técnicas e estéticas da qualidade possível para a geração/reprodução de imagens digitais face aos meios similares dos processos analógicos (que só alcançaram a excelência após décadas de contínuo aperfeiçoamento).
Do ponto de vista prático, para a grande maioria de amadores que se dedicam à fotografia e à filmagem amadora, o salto tecnológico digital do suporte digital de captação (com a eliminação dos dispendiosos filmes em película) causou um assombroso barateamento dos custos na captação de imagens. Ora, no meu entender, penso que esta vantagem comparativa da tecnologia digital face á analógica é o que permite não só a democratização do acesso à captação/reprodução de imagens, mas também como o aumento das possibilidades quantitativas de captação/reprodução de imagens para os próprios profissionais que já lidavam com imagens antes da era digital.
Claro que não estou afirmando que o simples aumento quantitativo das possibilidades de captação/reprodução de imagens seja, em si mesmo, um avanço em relação à era analógica anterior. Não. No meu entender, este avanço das possibilidades quantitativas só se torna qualitativamente melhor quando as mesmas pessoas que já se dedicavam à produção de imagens, com os recursos analógicos mais caros, agora, com os barateamentos dos custos da tecnologia digital, passam a dispor de maiores possibilidades econômicas de ampliar ainda mais sua esfera de ação por causa da multiplicação quantitativa de seus experimentos e de suas obras. Aqui sim é que há um salto qualitativo das experiências e vivências imagéticas e a assombrosa ampliação quantitativa das possibilidades digitais que proporciona uma revolução no universo imagético.
Entretanto, não quero deixar de assinalar que o aspecto quantitativo da era digital, em si mesmo, distanciado de seu conteúdo humanista, não eleva, por si mesmo, a qualidade de produção imagética. Ao contrário, estes mesmos recursos tecnológicos mais acessíveis e mais barateados nas mãos de pessoas que não absorveram as conquistas tecnológicas e estéticas da era imagética analógica anterior, representa, no meu entender, um retrocesso qualitativo, nestes avanços anteriores da humanidade, pelo menos em um primeiro momento. Talvez seja por isto mesmo que os profissionais e artistas da era imagética analógica anterior, tenham reagido com desconfiança e resistência face às novas possibilidades digitais que já estavam despontando no final do século XX. Contudo, muitos deles se equivocaram ao confundirem este retrocesso estético e técnico com a própria natureza da tecnologia digital em si mesma.
Vladimir Carvalho e Nuno César Abreu no MIS Foto: Alberto Nasiasene
No meu entender, penso que o problema da qualidade estética das imagens digitais (independentemente dos avanços e melhoramentos estritamente técnicos) só poderá ser enfrentado com um outro processo social (que não é um processo tecnológico em si mesmo) que deve ocorrer paralelamente ao avanço da tecnologia digital: a democratização da educação e da cultura (com o aumento consequente da massa crítica de reflexão e criatividade no tratamento das imagens).
Vladimir Carvalho e Nuno César Abreu no MIS Foto: Alberto Nasiasene
Portanto, como educador de história, claro que sou adepto da tese de que devemos não só ampliar a oferta de cursos sobre fotografia e cinema, mas ampliar também, paralelamente, a reflexão crítica e a elaboração conceitual da estética imagética na era da digitalização quântica dos fótons. Por isso mesmo é que me sinto atraído pela atividade educacional do Museu da Imagem e do Som de Campinas. Não só porque foi ali que me alfabetizei na linguagem imagética em si mesmo (principalmente em seu aspecto, prático e teórico, de produção de imagens em movimento), mas também porque sinto, instintivamente, uma forte necessidade de manter meu contato social e intelectual permanente com a interface deste museu com a sociedade. É uma interlocução intelecto-existencial fundamental em minha vida, desenvolvida principalmente com meus mestres do curso da Pedagogia da Imagem, que não só foram e continuam sendo meus professores, mas também amigos e parceiros de projetos de produção em documentários.
No último dia 27 de agosto, em diálogo com você, disse que, como você pode observar facilmente, quando estou a me referir aos projetos de documentários que estou elaborando, falo propositadamente em documentário, não em filme ou vídeo. Isto quer dizer que o meu foco é o gênero documentário e minha referência é o documentário cinematográfico, não o documentário jornalístico televisivo. Por que faço estas distinções? Porque quero focalizar a qualidade mínima que busco nos meus documentários que devem evitar a qualidade jornalística apressada dos documentários padrões da TV aberta (fico sempre muito insatisfeito com a rapidez e superficialidade dos tais documentários jornalísticos apresentados pela Rede Globo, por exemplo). Além disso, a linha de documentários que procuro seguir é a do Cinema Verdade, de um Jean Rouch. Por isto é que me dedico ao estudo intensivo da teoria do documentário cinematográfico e do cinema em geral, para incorporar em meu trabalho a estética e o conteúdo do documentário cinematográfico.
Vladimir Carvalho conversa com o Batata na Unicamp Foto: Alberto Nasiasene
Outro motivo que me faz falar em documentário e não em vídeo ou filme é o de que prefiro focar o conteúdo e a forma do documentário na linha do Cinema Verdade e não o veículo onde ele será exibido. Ou seja, não tenho nenhuma ilusão (nem desejo) de que o que produzo seja veiculado em um cinema comercial propriamente dito (com a tela grande). Parto do princípio de que os documentários que estou produzindo serão exibidos, no máximo, em tela grande projetada por um datashow (como aconteceu no dia do lançamento, no MIS, em maio de 2009 ou como pode acontecer em qualquer escola, através dos datashows que elas possuem); mas pensando principalmente nas televisões individuais de quem os quer ver (ou passar para os alunos em sala de aula através das televisões existentes nas escolas para uso didático) ou, no máximo (seria uma grande honra), passados por algum canal de TV por assinatura(por isto mesmo é que desde o começo defini a proporção da tela mais próxima da forma quadrada televisiva do que da forma retangular do cinema propriamente dito), como a TV Escola.
Vladimir Carvalho conversa com o Batata na Unicamp Foto: Alberto Nasiasene
Precisei definir, dentro de mim mesmo, conceitualmente, a proposta estética geral dos documentários que iria começar a fazer, portanto. Sou um entusiasta sim das novas tecnologias digitais, mas sem abrir mão do senso crítico. Claro que sei que toda tecnologia tem, simultaneamente, vantagens e desvantagens e a tecnologia digital não poderia ser diferente. Entretanto, na média comparativa da tecnologia digital para com a tecnologia analógica de captação/reprodução de imagens, penso que a tecnologia digital oferece possibilidades superiores. Mas com isso não estou a descartar para a lata de lixo toda a riqueza criada através da tecnologia analógica. Sou historiador, portanto, evidente que advogo a preservação tanto da memória, quanto da própria tecnologia analógica em seu nicho propriamente museológico. Defendo que é necessário que o know how e a existência material da tecnologia e do suporte analógicos seja preservado como patrimônio histórico da humanidade. Somente a preservação integral destes suportes e deste conhecimento tecnológico específico, em laboratórios conservacionistas e restauracionistas, é que tornará possível a pesquisa futura e o entendimento pleno de toda uma era do reinado absoluto da tecnologia analógica de captação/reprodução de imagens (certas dimensões intelecto-existenciais da era da película, para as futuras gerações, somente serão entendidas e vivenciadas por meio da preservação competente de instituições especializadas como os Museus da Imagem e do Som). Portanto, não defendo nenhuma política de terra arrasada sobre este imenso patrimônio histórico que deve ser preservado cuidadosa e reverentemente.
Vladimir Carvalho conversa na Unicamp Foto: Alberto Nasiasene
II
Um dos aspectos que julgo mais importantes num documentário é a formulação poética de seu título. É pelo título que o espectador irá entrar em um primeiro contato com o documentário. Um título instigante e poético, portanto, poderá funcionar preliminarmente como uma atração da atenção do espectador.
Não sei ainda qual título será definitivo no documentário (ou série de episódios) que estamos elaborando. Entretanto, quero descartar logo de cara o título "Sarau." Penso que este é um lugar comum muito batido e nada poético e instigante. Há milhões de saraus, com recitações de poesias, nos mais diferentes formatos, com um amplo e variado público, nos mais diferentes lugares possíveis. portanto, temos que encontrar o perfil diferenciador de nossos encontros na Biblioteca Prof. Ernesto Manoel Zink. Paralelamente a esta percepção de nosso diferencial, precisamos também começar a procurar por um título (pode ser que ele só será encontrado no final do processo). Pensei em um título provisório, como ponto de partida, "Cirandas literárias de Campinas," ou "Cirandas literárias campineiras." Escolhi "cirandas," que é uma tradição da cultura popular da zona da mata nordestina, particularmente de Pernambuco, porque nossos encontros ocorrem sempre em torno de uma roda, que tanto remete às culturas indígenas e africanas, quanto às ricas tradições populares europeias (com seus diversos ciclos, rodas e espirais). Isto reflete também o espírito destes encontros, sem hierarquias rígidas, num espírito comunitário de respeito mútuo, bom humor e solidariedade, como numa ciranda. Entretanto, é apenas um ponto de partida para a busca do título.
Como já lhe disse anteriormente, no dia 27, gostei muito da sua proposta de "tratamento" das imagens para a composição do primeiro copião. Você deu um passo a mais que eu ainda não tinha dado e o deu na direção que me agrada muito. Principalmente, gosto da dinâmica narrativa (imagética) que você propôs. Acho-a criativa e instigante. Isto quer dizer que as probabilidades de que o documentário desperte a atenção do público desde o primeiro momento e a mantenha até o fim são grandes. Gosto do padrão estético em que se rompe intencionalmente os padrões estéticos convencionais, desde que se saiba o que está sendo rompido, porque está sendo feito isso e qual efeito que se pretende despertar no público. Como lhe disse em 13 de agosto, no MIS, no meu entender, cinema não é técnica, é estética. Felizmente não estou sozinho por pensar assim. Tanto François Truffaut, cujas 300 entrevistas, dadas à imprensa francesa ao longo da vida dele, estava lendo naquele momento (publicadas no livro O Cinema Segundo François Truffaut; textos reunidos por Anne Gillain, editora Nova Fronteira), quanto Neville de Almeida (que vi na TV Brasil) disseram o mesmo. Além disso, ao longo de toda a obra escrita de Glauber Rocha (que estudei intensivamente nestes últimos meses), inúmeras vezes o vi dizendo e escrevendo isto (de uma ou de outra maneira, mesmo que não através destas mesmas palavras). Portanto, não estou sozinho.
Vladimir Carvalho dá entrevista na Unicamp Foto: Alberto Nasiasene
Claro que minha formação literária propriamente dita, em fins dos anos 1970, me predispõe a este paradigma modernista de rebeldia face aos cânones academicistas das gramáticas dogmáticas. Para mim, assim como para milhares de outros que se aventuram a praticar literatura, neste século que ainda está começando, é muito importante sim estudar e dominar as regras gramaticais, mas não para obedecê-las, como um fundamentalista, sem liberdade de criação de novas semânticas. Ao contrário, creio que a gramática, como tudo que é fruto do espírito humano, é uma realidade viva que está em processo histórico contínuo (a não ser as que já estão mortas, como o latim e o sânscrito).
Falo em gramática aqui propositadamente, porque, como todos sabemos, alguns teóricos se apressaram em estabelecer uma gramática do cinema "definitiva" a partir da proposta de Griffith até o desenvolvimento e consolidação da indústria cinematográfica em Hollywood. Ora, como sabemos, o chamado cinema de arte, ou cinema de autor (Nouvelle Vague ou Cinema Novo), se insurgiu contra este dogmatismo gramatiqueiro do cinema chamado clássico, como os modernistas em geral (desde o movimento do Impressionismo) haviam se insurgido contra os cânones escolásticos academicistas. O grande cinema comercial de entretenimento, nos EUA e no mundo, ainda continua a seguir suas gramáticas cinematográficas conservadoras sem sequer se dar conta delas e, (não porque sejam comerciais), por isto mesmo, não fazem a linguagem do cinema avançar e se renovar como deveria. Felizmente, graças à influência direta e indireta que recebi de Vladimir Carvalho, desde minha infância e início de adolescência, e da experiência que vivenciei como criador e diretor de um cineclube estudantil secundarista (projetando películas de filmes documentários e de ficção em 16mm, que vinham, pela ponte aérea Rio-Brasília, da Embrafilme no Rio de Janeiro para nosso cineclube estudantil em Brasília), no fim da década de 1970, não interiorizei o conformismo estético e dogmático a respeito do cinema, tanto porque o cinema que despertava a minha paixão e meu interesse era o Cinema Novo, quanto porque, ao ir ao encontro da Revolução na Paraíba, comprei um livro (em espanhol) com os artigos do Eisenstein para aprender como analisar o cinema especificamente (a partir das dimensões estéticas que distinguem o cinema da literatura).
Era este saber e estas vivências que estavam profundamente soterrados em minhas memórias, após a hecatombe de minha fuga da Paraíba, ameaçado de morte como estava, por causa de minha militância política e intelectual.
Exposição no MAC (Museu de Arte Contemporânea de Campinas, iinstituição pertencente à Prefeitura de Campinas SP) Fotos: Alberto Nasiasene
Um detalhe quantitativo que não posso deixar de apontar é que, graças à tecnologia digital, pude desenvolver muito intensamente um ritmo, um estilo e uma abordagem de enquadramento com minha primeira máquina digital, comprada somente em 2004. Se não tivesse esta oportunidade de realizar, em profundidade quantitativa e qualitativa, a prática fotográfica extensiva e intensiva a ponto de constituir um certo repertório que já estava me conduzindo à narrativa imagética espontaneamente, por meios digitais, evidente que sequer poderia ter a pretensão de me tornar fotógrafo amador. Portanto, claro que, ao descobrir estas potencialidades econômicas e estéticas da tecnologia digital de produção/reprodução de imagens, fiquei muito entusiasmado sim (mas nunca a ponto de perder meu senso crítico e de pensar que a roda estava sendo re-inventada em matéria de estética somente porque surgiu uma nova tecnologia e novos suportes). Na equipe do Ângelo e da Mirza ajudei a produzir um livro de pesquisa histórica onde as imagens e fotografias têm papel destacado e foi exatamente por isto que, quando o Ângelo foi seguir sua carreira acadêmica na UFPB, ingressei no curso da pedagogia da imagem no Museu da Imagem e do Som de Campinas, em 2007. Naquele momento, nem sonhava que um dia iria enveredar pelo caminho de produção de documentários, porque pensava que iria me dedicar, cada vez mais, ao aperfeiçoamento de minha prática fotográfica.
Último sarau de 2009, no dia 28 de novembro (agora só nos reuniremos em fevereiro de 2010) Fotos: Alberto Nasiasene
Foi durante o curso no museu, mais ou menos no seu meio, por volta de junho/julho, que aquele processo neurológico e intelecto-existencial de que tenho falado muitas vezes, me causou esta reviravolta neste roteiro pessoal de vida. Isto também quer dizer que, através da parceria que tenho com vocês, consegui resgatar uma parte tão preciosa de mim mesmo. Além disso, não posso deixar de finalizar esta reflexão preliminar que estou fazendo para a criação do nosso roteiro das "cirandas literárias" (e aqui é possível detectar meu inconsciente cultural paraibano/pernambucano, não por acaso escolhi, pelo menos para dar a partida, este nome, ciranda), sem mencionar que estes encontros literários que estou ajudando a você, Batata, coordenar (como parceiro e co-diretor), é a ressurreição de minha atividade literária de final de adolescência e início de vida estudantil universitária, tanto em Brasília, quanto no interior da Paraíba, no então campus II da UFPB. Portanto, veja como este projeto de documentário não é um projeto de documentário objetivista, como no cinema direto dos americanos, mas um projeto na linha do cinema verdade dos franceses que tanto me atrai. São minhas memórias intelecto-existenciais que estão sendo resgatadas por intermédio dele e você não é só meu parceiro e co-diretor neste filme, é também meu principal interlocutor narrativo (mesmo que nossas vozes não apareçam na narração propriamente dita, seremos nós que elaboraremos o texto narrativo e as sequências imagéticas, na ordem que irão aparecer, quando, finalmente, o copião se tornar filme documentário definitivo).
Alberto Nasiasene
14 de dezembro de 2009
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