O cinema documentário militante de Vladimir Carvalho em Brasília
Só quem ousa sonhar e esperar por algo impossível
é capaz de colocar a mão no arado e começar a construí-lo.
Francisco Cetrulo Neto
Cartaz da exposição permanente da Fundação Cinememória. Brasília, 6 de janeiro de 2010. Foto: Alberto Nasiasene
Estive com Vladimir Carvalho em Brasília, agora em janeiro de 2010. Ele estava muito empenhado na elaboração final de seu documentário sobre o rock de Brasília e, paralelamente a este documentário em estágio de finalização, também estava empenhado em outros projetos de documentário que está elaborando. Mesmo assim, estava antenado com os aconteciimentos políticos relativos ao governo José Roberto Arruda. Ao caminhar com ele na quadra, ele fez questão de me mostrar o que, com energia de menino traquinas, fez em uma calçada recentemente concretada (a foto abaixo documentou este momento): a inscrição Fora Arruda.
Vladimir Carvalho, com seu guarda-chuva, mostra a inscrição na calçada: fora Arruda. Brasília, 6 de janeiro de 2010. Foto: Alberto Nasiasene
Vladimir Carvalho, com seu guarda-chuva, mostra a inscrição na calçada: fora Arruda. Brasília, 6 de janeiro de 2010. Foto: Alberto Nasiasene
Ele também fez um pequeno poema em frente à Fundação Cinememória, que revela sua relação filmográfica com Brasília. A Cinememória por ele criada pretende ser uma cinemateca onde seja guardada (e preservada para as futuras gerações) não só a obra de Vladimir Carvalho, mas a de todo o cinema realizado em Brasília e sobre Brasília. Entretanto, não são só os filmes em si mesmos que serão arquivados e preservados da deterioração e do esquecimento na Fundação Cinememória, mas também toda a documentação relativa a estes filmes e seus autores, em papel, em fotografias e em objetos relativos ao universo cinematográfico. Ele já tem lá um precioso universo de mais de 100 000 documentos (incluindo-se neste número não só os filmes, negativos e fotos, mas também as cartas, ofícios, reportagens de jornal, cartazes, impressos etc.) que serão, gradualmente, catalogados e organizados para que pesquisadores, no futuro, possam ter acesso ao conteúdo da filmografia de Brasília, tentando desvendar o enigma Brasília. Espero poder contribuir, como historiador que sou, cada vez mais, não somente com a divulgação deste acervo, mas também com sua organização e preservação digitalizada.
Vladimir Carvalho e os versos. Brasília, 6 de janeiro de 2010. Foto: Alberto Nasiasene
Brasília, 6 de janeiro de 2010. Foto: Alberto Nasiasene
Nesta postagem aqui, faço apenas uma breve incursão no conteúdo do acervo que está na Fundação Cinememória. Quando for possível colocar no ar o portal da Fundação Cinememória, parte deste acervo estará disponível para consulta na internet, após ser digitalizado. Espero poder contribuir também com a criação deste portal da Fundação Cinememória. No mundo digital do século XXI é possível não só a divulgação do conteúdo e da obra de Vladimir Carvalho, mas também a disponibilização, para um público mais amplo, no Brasil e no mundo, de parte do acervo documental da história do cinema em Brasília. Esta memória histórica não pode desaparecer para as futuras gerações e é uma grande honra, para mim, poder contribuir com a preservação dela. Como já defendi aqui neste blog, a era digital em que estamos cada vez mais entrando, neste século XXI, trouxe consigo, além do barateamento dos custos, milhões de possibilidades de preservação, difusão (entre o público já iniciado neste mundo do cinema) e democratização do acesso à pesquisa e ao conhecimento especializado (para um público ainda não iniciado no mundo e na história do cinema).
Vladimir Carvalho atende telefonema do Instituto Moreira Salles. Brasília, 6 de janeiro de 2010. Foto: Alberto Nasiasene
Um dos ícones mais utilizados na filmografia de Vladimir: São Miguel Arcanjo.
Glauber Rocha usou um outro ícone popular, São Jorge, como símbolo da justiça popular. Foto: Alberto Nasiasene
Alguns dos troféus de Vladimir Carvalho, por sua obra, em festivais de cinema Brasil afora. Brasília, 6 de janeiro de 2010. Foto: Alberto Nasiasene
Alguns dos troféus de Vladimir Carvalho, por sua obra, em festivais de cinema Brasil afora. Brasília, 6 de janeiro de 2010. Foto: Alberto Nasiasene
Fotos e objetos relativos ao fazer cinematográfico. Brasília, 6 de janeiro de 2010. Foto: Alberto Nasiasene
Recorte de jornal. Brasília, 6 de janeiro de 2010. Foto: Alberto Nasiasene
Recorte de jornal. Brasília, 6 de janeiro de 2010. Foto: Alberto Nasiasene
Recorte de jornal. Brasília, 6 de janeiro de 2010. Foto: Alberto Nasiasene
Cartaz. Foto: Alberto Nasiasene
Cartaz de filme. Foto: Alberto Nasiasene
Na foto abaixo, Vladimir aponta para o local onde o índio Galdino, da nação Pataxó, foi incendiado por rapazes de classe média, no final do século XX. Ele estava dormindo no ponto de ônibus que o guarda-chuva aponta, esperando ser atendido por uma instituição de amparo ao indígena em Brasília, quando foi barbaramente queimado por jovens de nossa classe média. Este episódio chocou o país e o mundo, mas é bem coerente com a realidade histórica deste país há mais de 500 anos. Índios e mendigos, ainda hoje, são vítimas indefesas de atitudes de vândalos adolescentes de classe média, nas grandes cidades, que realizam suas "proezas viris" atacando vítimas indefesas, para demonstrar sua masculinidade, participando de ritos de iniciação para a entrada em gangues de adolescentes e pós-adolescentes de classe média.
Vladimir Carvalho aponta para onde o índio Galdino morreu. Brasília, 6 de janeiro de 2010. Foto: Alberto Nasiasene
Escultura que Siron Franco fez como protesto no local onde o índio foi assassinado barbaramente
(ao fundo vemos o ponto de ônibus onde Galdino estava quando foi queimado).
Brasília, 6 de janeiro de 2010. Foto: Loretta Nasiasene
Alberto Nasiasene
22 de janeiro de 2010
Rota Mogiana de Alberto Nasiasene é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Compartilhamento pela mesma licença 3.0 Brasil. Based on a work at www.rotamogiana.com.
d on a work at www.rotamogiana.com.