Memorial de inauguração da Fundação Cinememória
Vladimir Carvalho em 6 de janeiro de 2010. Foto: Alberto Nasiasene
Ao se aposentar de sua docência na Universidade de Brasília (onde lecionava cinema desde 1970), Vladimir Carvalho, além de se dedicar mais intensivamente a seu projetos de documentários, passou a se dedicar integralmente também ao seu projeto de organizar e manter uma fundação que pudesse preservar os filmes que ele fez, mas também os filmes de outros cineastas sobre Brasília ou de Brasília. Desde 1970 (após a segunda retomada do curso de cinema da UnB, depois da debandada geral dos professores do primeiro curso, em 1965, por causa da ditadura), Vladimir Carvalho foi um dos principais articuladores e incentivadores do cinema no DF. Além disso, como ele sempre diz, Brasília foi uma das únicas (talvez a única) cidade do mundo que já nasceu sendo filmada e fotografada, o que quer dizer que dispões de um enorme acervo imagético sobre toda a trajetória de sua gestação e de toda a história que se desenvolveu e se desenvolve nela desde 1960. Por isto mesmo é que ele sempre defendeu a criação de uma cinemateca em Brasília. Como esta cinemateca, nos moldes da Cinemateca Brasileira, mesmo que em menor porte comparando-se com a cinemateca paulista, nunca foi um desejo político das classes dirigentes em Brasília, desde os inícios, na década de 1960, ainda nos anos 1990, ao se aposentar, Vladimir colocou a mão no arado e começou a construir sozinho este sonho por ele tão acalentado. Felizmente no início do século XXI, com a era digital, novos recursos e novas possibilidades históricas, técnicas, econômicas, sociais, culturais, institucionais e políticas estão tornando possível, passo a passo, a construção deste sonho impossível de preservação deste riquíssimo patrimônio histórico não só para a identidade urbana e histórica de Brasília, mas do país como um todo (porque Brasília é uma síntese dos processos históricos profundos que aconteceram no Brasil desde meados do século XX). Para mim é uma grande honra poder colaborar com ele, mesmo que eu não more mais em Brasília desde 1980 (mas sempre retorno à cidade a cada semestre, em minhas férias escolares, para rever minha família que continua morando por lá e, além disso, temos a internet que me possibilita entrar em permanente contato virtual com todos os que se interessam pela preservação do cinema de Brasília).
Vladimir Carvalho em 6 de janeiro de 2010. Foto: Alberto Nasiasene
Como já afirmei anteriormente aqui neste blog, o perfil da produção cinedocumentária de Vladimir Carvalho, para um professor de história, por exemplo, é um riquíssimo material pedagógico que pode ser aproveitado em seu dia a dia de sala de aula; já que ela traz as principais questões históricas relativas a nossa história brasileira comum (tanto em sua dimensão de preservação e valorização da cultura popular, quanto da abordagem da história na perspectiva dialógica com as classes populares alijadas da história tradicional oficial; o que revela um olhar historiográfico surpreendentemente moderno que o aproxima da Escola dos Annales, por exemplo).
Vladimir Carvalho em 6 de janeiro de 2010. Foto: Alberto Nasiasene
Aqui insiro este documento que reporta à inauguração da Fundação Cinememória. Entre os cineastas que assinaram o livro de visitação estava Bernardo Bertolucci. Várias autoridades e intelectuais ligados ou não ao cinema, prestigiaram o evento inaugurador da Fundação Cinememória de Vladimir Carvalho.
Bernardo Bertolucci
Alberto Nasiasene
21 de março de 2010
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