O público jovem que foi assistir Rock Brasília no Festival de Paulínia 2011
Festival de Paulínia 2011. 9 de julho de 2011. Foto: Alberto Nasiasene
Aqui exponho algumas das fotos que fiz no sábado, dia 9 de julho, em Paulínia, quando estive na fila para entrar na exibição do filme de Vladimir. Estava tímido, naquele frio de 12 graus, porque só me lembro de ter entrado em um Festival de Cinema uma vez, no Festival de Cinema de Brasília em 1979, para ver, na tela grande, O País de São Saruê (que tinha ficado preso na censura federal desde o início daquela década). Naquele tempo não havia sequer VHS, muito menos DVD (e sequer sonhávamos com cinema em casa, a não ser pela televisão, que não apresentava aquele tipo de cinema brasileiro, é claro; vivíamos ainda sob ditadura militar, não tínhamos internet, nem TV a cabo), portanto, a única maneira de assistir ao filme de Vladimir era ir ao cinema do festival mesmo (porque, é claro, os cinemas comerciais da época não passavam filmes como aquele). Este povo que vemos aqui é um público predominantemente jovem e foi ele que ovacionou o filme, ao final (como é possível perceber, não é um público propriamente roqueiro, mas um público jovem que gosta de cinema e música, além de política cidadã).Os tempos são outros, mas é claro que eu não poderia deixar de me emocionar com o que presenciei.
Festival de Paulínia 2011. 9 de julho de 2011. Foto: Alberto Nasiasene
Festival de Paulínia 2011. 9 de julho de 2011. Foto: Alberto Nasiasene
Paulínia, na região metropolitana de Campinas, já é um polo de cinema. Existe uma escola técnica que prepara inúmeros jovens para as funções diversas do cinema. ( e estúdios onde podem ser feitas tomadas cinematográficas) Além disso, os editais públicos da cidade também patrocinam o cinema nacional. Isto tudo tem a ver, é claro, com a existência da maior refinaria de petróleo existente no país (a refinaria que será futuramente inaugurada no Maranhão tirará o posto de maior refinaria de petróleo de Paulínia, mas não sua importância estratégica para o centro-sul do país, maior mercado consumidor de derivados de petróleo e maior mercado consumidor em geral). Estou afirmando isto somente para chamar atenção ao fato de que a Petrobras é, atualmente, um dos maiores (senão o maior) patrocinadores do cinema brasileiro e o Festival de Paulínia não deixa de ser um patrocínio indireto da Petrobras, já que é a Prefeitura Municipal da cidade que banca a infra-estrutura, mas com os royalties do petróleo e os impostos que a Petrobras gera para a cidade.
Festival de Paulínia 2011. 9 de julho de 2011. Foto: Alberto Nasiasene
Festival de Paulínia 2011. 9 de julho de 2011. Foto: Alberto Nasiasene
O mercado, sozinho, não consegue financiar o cinema brasileiro, muito menos o cinema documentário, assim como os novos nomes que vão surgindo a cada década no cinema de ficção. Portanto, o neoliberalismo, além do monopólio destrutivo e predador do cinema Hollywoodiano, fez um enorme estrago no cinema brasileiro desde a era Collor e o fim da Embrafilme (talvez a Petrobras tenha conseguido preencher parte da lacuna que a Embrafilme deixou, como fomentadora do cinema brasileiro). Entretanto, graças também à era digital, com o assombroso barateamento dos custos e descentralização dos mercados, podemos ver, a tão pouco tempo, o início, por parte dos poderes públicos, de um renovado e vigoroso impulso de produção e fomento ao cinema brasileiro que a região de Campinas já teve desde os anos 1920. O potencial de desenvolvimento do audiovisual em Campinas é ainda muito grande e, com o processo histórico de descentralização do desenvolvimento do estado de São Paulo, iniciado ainda nos anos 1970, com a interiorização do processo, especialmente neste início de século XXI (e com o potencial que o petróleo do pré-sal irá trazer para a região; petróleo este que está em frente ao litoral de São Paulo), este potencial será cada vez mais explorado e desenvolvido.
Festival de Paulínia 2011. 9 de julho de 2011. Foto: Alberto Nasiasene
Campinas tem um dos raros cursos de pós-graduação em cinema do país, na Unicamp, o curso de mestrado e doutorado em multimeios. Além disso, é uma das raras cidades brasileiras a ter um Museu da Imagem e do Som, pertencente à Prefeitura Municipal de Campinas, atuante e relativamente bem aparelhado. Não por acaso, portanto, há na região metropolitana (que tem quase três milhões de habitantes, sem contar o entorno da região metropolitana, que possui população maior do que muitos estados brasileiros e países estrangeiros) este público qualificado ávido por consumir o bom cinema brasileiro e o bom cinema de arte internacional. Também não por acaso, o Festival de Paulínia, independentemente deste ou daquele partido que esteja momentaneamente no comando do município, tende a se tornar (se as políticas públicas tiverem continuidade e consistência, nos próximos anos) um dos momentos altos do cinema brasileiro. A aposta de Vladimir no Festival de Paulínia como momento decisivo para ele lançar seu novo documentário é também um endosso na necessária política cultural que precisamos ver quanto ao cinema brasileiro, para além da partidarização e da política pequena deste ou daquele governante (claro, não falo no nome de Vladimir, falo em meu nome e não posso deixar de registrar aqui minha surpresa por ele ter inscrito seu filme em Paulínia).
Festival de Paulínia 2011. 9 de julho de 2011. Foto: Alberto Nasiasene
Alberto Nasiasene
11 de julho de 2011 Rota Mogiana de Alberto Nasiasene é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Compartilhamento pela mesma licença 3.0 Brasil. Based on a work at www.rotamogiana.com.