O novelão da Globo está tão caro que não consegue mais sustentar a emissora
Um dos graves problemas da sustentação financeira do império Globo (montado na ditadura para proteger a ditadura) é que os custos daquele tipo de indústria produzido no Projac estão, cada vez, mais caros (tanto por causa da infraestrutura, quanto por causa dos altos salários que pagam para aquele exército de funcionários, artistas e atores) diante de um novo século e novas conjunturas midiáticas que estão se delineando rapidamente neste novo século. Não é só a disseminação da banda larga, cada vez mais e mais, em todas as regiões do país, mas também as novas possibilidades de canais pagos (mais baratos e acessíveis para uma ampla parcela de faixa de renda classe c que emergiu com as políticas econômicas inclusivas do governo Lula desde 2003) que estão competindo diariamente com a programação monolítica e monopólica do mamute carioca (na verdade, cada vez mais, menos monopólica, até pelas próprias leis do mercado e da competição já existente). O império Globo muito se assemelha a um Estado dentro do Estado (mas a história costuma indicar que uma situação como esta, Estado dentro do Estado, não se mantém por muito tempo). Não dá mais para tentar segurar a luz com as mãos, em tempos de TV digital e internet, além de múltiplos aparelhos eletrônicos de todos os tipos.
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É por isto mesmo que o império Globo bombardeia diuturnamente os governos de centro-esquerda que não consegue mais controlar, nem derrubar (da situação em que a ditadura criou, a de protegê-la politicamente através do controle da informação censurada, passou a querer ela mesma, Globo, no pós-ditadura, ser o governo; ou seja, é como se o rabo estivesse balançando a porca). Eles precisam não só das verbas publicitárias governamentais, mas de um "apoiozinho" institucional para evitar, por exemplo, que se regulamente, como manda a Constituição, as concessões televisivas e os meios de comunicação. Por exemplo, uma empresa só, não pode, ao mesmo tempo, produzir conteúdo, distribuí-lo e transmiti-lo, como é nos EUA e Europa; isto não só é um monopólio que desmente toda a baboseira ideológica neoliberal de uma Míriam Leitão, logo ela, sentada em um deles, quanto desmente a defesa irrestrita da liberdade de imprensa tão apregoada pelos hipócritas que são todos eles, na verdade, anti-democráticos, porque não querem a liberdade de expressão para todos, só para eles; ainda mais, com o requinte de serem regados os seus cofres com o dinheiro de nossos impostos. Depois vêm dizer, candidamente, como a Leitão, que servem aos interesses dos assinantes da Globo News, confundindo patrocinantes com assinantes. Ora, pago caro para assinar a Sky, mas nunca sou consultado em meus interesses econômicos, políticos e cidadãos e não me vejo representado naquela baboseira ideológica dela de modo algum. Ao contrário, sinto-me agredido ao ouvi-la falar em assinantes, porque, infelizmente, contribuo com o salário astronômico dela, como educador que sou, só para ter acesso a programação melhor do que a Globo News - por isto deixei de ver este canal também (porque não temos liberdade de montar o pacote de canais de nosso jeito, mas do deles).
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O problema do raciocínio que se baseia na evidência de que o carro chefe da Globo são as novelas, na TV aberta, com todo respeito, não é constatar que as novelonas são o carro chefe da emissora (porque o foram e o são até agora), é pensar que aquilo ali tenha um alto padrão estético reconhecido internacionalmente (as novelas mexicanas também teriam, se o critério for a difusão e exportação deste produto de baixa qualidade estética para outros países). Bem ou mal que seja, aos poucos, com o próprio avanço da educação no país, em sala de aula de português, por exemplo, a própria difusão e democratização da teoria literária entre massas e massas de indivíduos, por intermédio da melhoria da qualidade do ensino público, vai difundindo um senso crítico mais apurado quanto à estética dos tais novelões (com finais felizes de última hora, em que tudo se ajeita, no último capítulo, de acordo com o merchandaging e de acordo com as pesquisas de opinião sobre as expectativas da audiência; pior do que os folhetins melodramáticos do século XIX e ainda tem quem defenda o tal alto padrão destas novelonas…).
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Entre certas camadas jovens de classe média, que já têm acesso à TV paga, gostemos ou não gostemos disto, há a preferência pelas novelas americanas (ou seriados, como queiram), porque, esteticamente, são melhor elaboradas e é muito mais barato, porque não precisa manter nenhum Projac para comprá-las. É um bordão questionável o de que não se pode concorrer com os novelões da Globo (isto pressupõe que o gosto de todo tipo de público segmentado, inclusive os jovens que estão nascendo agora, no século XXI, numa sociedade cada vez mais complexa e pluralista, irá repetir ou dar continuidade ao padrão de gosto estético das últimas décadas do século XX). Claro que é do interesse de todo este pessoal ligado, direta e indiretamente, ao negócio novelesco global, difundir tal bordão em proveito próprio, afinal, como é que eles vão viver sem os seus altos salários?… Mas é bom não esquecer que o século que se abre tem um leque cultural muito mais amplo e rico, com novas tecnologias, do que as novelonas e os hábitos culturais de lazer dos jovens nos grandes centros já nem consegue mais ficar muito tempo numa sala de visitas vendo uma televisão (além disso, há o fenômeno da confluência da TV com a internet, de tal modo que o YouTube está desestabilizando, para quem vivia dele, um público cativo de novelonas; é só averiguar a média de audiência delas nas últimas duas décadas – novos modelos de negócios são necessários para novos contextos e novas tecnologias e não adianta tentar parar a roda da história, porque o século XXI já está deixando bem marcado seus limites face ao século anterior e cada vez mais nos distanciaremos do século XX; portanto, os paradigmas que estão surgindo agora não são os mesmos dos tempos globais do império dos Marinho).
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Mais cedo ou mais tarde, de forma transicional ou de forma abrupta, veremos ou o desmoronar ou o definhamento constante daquilo que muitos ainda não perceberam que já está acontecendo (afinal, como foi divulgado recentemente, a audiência do JN está sendo menor do que a audiência do horário político gratuito). O império Globo está se movendo porque as bases sobre as quais se apoia estão desmoronando (o que vemos em cima, na superestrutura organizacional e na grade da programação, é só, metaforicamente, o entre-choque de placas tectônicas desencadeadas não só pelo governo Lula e continuadas pelo governo Dilma, mas pelo próprio século XXI que está avançando mais rápido do que muitos imaginam – isto vai além da vontade do PT, do Lula e da Dilma; não que eles não tenham um papel nisto tudo).
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Não adianta espernear contra os fatos, o século XXI está aí, com seus novos horizontes. Do mesmo modo que o cinema, ao ser inventado no final do século XIX, alterou radicalmente os hábitos de entretenimento do século XIX em relação aos romances e folhetins, o que vivemos agora está a nos indicar que este novo século não será a repetição do século anterior.
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Alberto Nasiasene
Jaguariúna, 16 de outubro de 2012
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