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É por isto que digo que é perigoso fazer arte


Fotos: Alberto Nasiasene. Rio de Janeiro RJ. Janeiro de 2017. Parque das Ruínas em Santa Teresa.

Fotos: Alberto Nasiasene. Rio de Janeiro RJ. Janeiro de 2017. Santa Teresa.


Prefeitos como o Haddad (que, como seres humanos individuais, sempre cometem erros e acertos; como todos os outros seres humanos), são acusados previamente sem que as pessoas sequer averiguem os fatos previamente. Um prefeito qualquer nunca administra uma cidade sozinho, mas utilizando uma máquina pública que existe previamente a ele. Além disso, no atual quadro político brasileiro (aliás, no anterior ao golpe de 2016), nenhum prefeito governa, com o seu próprio partido, sozinho, mas através de coalizões (a não ser o PSOL que até agora ainda mais parece uma seita religiosa como as Testemunhas de Jeová, que pensam que só eles estão certos e não se consideram cristãos da linha católica, nem protestante, nem ortodoxa). Muitas vezes, estas ações [como a de apagamento brutal dos grafites nas ruas de São Paulo] ocorrem à revelia das diretrizes da Secretaria de Cultura e do secretário (de modo que fica estranho afirmar que o prefeito [estava me referindo ao prefeito anterior ao Haddad, o ex prefeito Kassab] fez este ataque aos grafites e só depois do protesto é que mudou a orientação; mas ainda bem que mudou, porque este atual não ouve, nem acata [estava falando do Doria]). Entretanto, é o próprio ex Secretário da Cultura do Haddad quem fala o que fala.

Fotos: Alberto Nasiasene. Rio de Janeiro RJ. Janeiro de 2017. Santa Teresa

SEDA Campinas SP


É o que acontece na prefeitura de Campinas, por exemplo. Somos administrados por um prefeito que não apoio, o Jonas PSB, entretanto, temos uma parceria com funcionários de carreira da própria Secretaria de Cultura de Campinas, [...] etc.

Foto: Alberto Nasiasene. Rio de Janeiro RJ. Janeiro de 2017. Santa Teresa

SEDA Campinas SP

SEDA Campinas SP

SEDA Campinas SP


No planejamento da SEDA ano passado, tivemos que enfrentar várias destas questões: por exemplo, setores da máquina administrativa da prefeitura fazem um tremendo obstáculo a certos eventos propostos pela própria Secretaria de Cultura (um exemplo, a Emdec vai lá e impede que a organização da SEDA moradores de rua seja realizada em tal ou qual praça e é preciso muita negociação e dor de cabeça para que o evento se realize).

SEDA Campinas SP

SEDA Campinas SP

SEDA Campinas SP

Felipe Garcia um dos organizadores da SEDA Campinas SP

SEDA Campinas SP


A prática atual do Dória é bem típica de governos de orientação ideológica de direita (ou centro direita). Ele está revivendo um procedimento que havia acontecido anteriormente na administração Kassab (que foi reeleito, com todo o apoio da Folha de São Paulo, por exemplo, e do ex governador Serra PSDB). Mas antes da administração Marta, ex PT (mas era do PT em 2001-2004), o Maluf e Celso Pitta já tinham sido os prefeitos de São Paulo e falava-se muito em levar à frente a revitalização do centro de São Paulo (todo pichado, não com grafites, mas com nomes de gangues e nomes pessoais apenas, em todas as partes visíveis de prédios etc.). Há um limite bem tênue entre vandalismo e certas pichações (para mim, que sou mais conservador esteticamente em certas questões, há muita diferença entre grafite e pichação). Aliás, este foi um dos temas da Bienal anterior, a de 2014.

Ou seja, o PT só consegue administrar São Paulo em um mandato apenas, sem reeleição, no pêndulo esquizofrênico político desta cidade, como foi o período de quatro anos da Erundina, a primeira (também hoje ex PT e atual PSOL; mas passando pelo PSB primeiro, porque ela foi dar apoio ao Jonas, em Campinas, vejam só; fato que cobro dela até hoje; ainda não veio pedir perdão ou desculpas ao eleitorado de Campinas pelo apoio que deu e foi toda cheia de pureza ideológica face a uma aproximação imagética do Haddad e do Maluf; mas ela não fica atrás destas contradições e incoerências não). Depois (porque a Erundina não conseguiu se reeleger, por causa da fogo de barreira feito por esta mesma grande imprensa, na época, a Folha de São Paulo, por exemplo, que acusava a prefeita de tudo e de nada, ao mesmo tempo; até as enchentes das marginais do Tietê, que não foram obra dela, eram por culpa dela; quando Maluf assumiu, depois dela, a culpa era do clima, não do prefeito) veio a Marta (anos depois da Erundina) e, depois de Serra e Kassab, novamente o Haddad, com uma orientação política de centro esquerda (bem ou mal que seja, com acertos e erros; como tudo o que é humano).

Acontece que, bem ou mal que seja, é o PT que tem levado à administração pública, bem ou mal que seja, certas políticas mais progressistas. Uma destas políticas, mas claro que depende de quem é o Secretário de Cultura, é a de respeitar a diversidade de expressões artísticas locais, em diálogo produtivo (sempre enfrentando setores de extrema esquerda que vão criticar tudo mesmo, o tempo todo). É por isto que filmei e fotografei os belos grafites propriamente ditos (não estou nem falando da pichação de protesto que estão acontecendo agora, com letras inteligíveis para a maioria da população) que via o tempo todo em nossos deslocamentos para os museus no ônibus em São Paulo (pelo menos registrei muitos destes grafites que estão sendo apagados agora, sem saber que eles seriam apagados). Para mim, esta ação da Secretaria de Cultura da época, de não só respeitar, mas incentivar os artistas de rua em expressar sua arte de forma organizada e respeitosa era o que me chamava atenção. Não é o que acontece em Campinas (que nunca teve uma política de valorização do grafite como aconteceu ultimamente em São Paulo, especialmente na administração Haddad; bem ou mal que se fale dele).

Fotos: Alberto Nasiasene. Rio de Janeiro RJ. Janeiro de 2017


Aqui no Rio, onde ainda estou, isto não aconteceu em tal escala ainda. Não se vê por aqui, grandes trechos de paredes de viadutos e outros locais públicos, pintados com murais grafites. Embora vejamos sim, localmente, aqui e ali, grande e belíssimos painéis de grafites. Aqui no Rio faltou também uma política cultural pública de valorização sistemática do grafite como São Paulo implementou.

Foto: Loretta Nasiasene. Estação final do Bondinho de Santa Teresa. Janeiro de 2017.


A classe média carioca ainda vê o grafite sem diferenciá-lo da simples pichação de adolescente que quer marcar território e assinar seu nome. Portanto, pensa que é vandalismo.

Romero Britto


Quando fiz meus dois documentários sobre a comunidade Santa Marta, consegui captar, furtivamente, um diálogo feito por moradores da favela, dentro do teleférico (morrendo de medo, porque a senhora que faz as declarações foi muito agressiva comigo e queria que eu pagasse para ela um cachê; eu não focalizei o rosto dela, porque ela não tinha o direito de me impedir, em um teleférico público, gratuito, de filmar a paisagem bela que se descortina para quem está visitando o local pela primeira vez). Esta senhora, que diz que a moeda que o filho/a deixa cair era para ficar por lá mesmo, porque, segundo o ditado popular vigente aqui, "deixa lá que nasce" (ou seja, dinheiro nasce como as jaqueiras plantadas nos morros, que dão frutos que são até vendidos nas feiras locais, no asfalto), de origem afro brasileira e favelada, disse expressamente que a obra do Romero Brito que vi em um paredão da comunidade Santa Marta era muito feio (e ficou chocada comigo porque, em diálogo com minha filha e o amigo estudante de arquitetura, me viu admirado com a beleza do grafite enquanto manifestação de arte). Ela fez questão de esnobar meu encantamento com a paisagem, com o grafite e com tudo (e ainda queria me cobrar um dinheiro, como se eu fosse aquele tipo de gringo que se pode explorar, deixando eles fotografarem o "nativo" por um dinheiro, geralmente, salgado). Contradições do cotidiano da sociedade urbana brasileira que venho investigando nestes últimos anos.

Fotos: Alberto Nasiasene. Feira da Glória no domingo. Janeiro de 2017

Romero Britto


Desculpem-me por esta longa explanação. Não quero ser agressivo, apenas discutir e pensar intelectualmente sobre esta problemática com a qual trabalhamos (no ponto de vista de um educador de história). Este tipo de investigação de campo que faço faz parte do universo de investigação da antropologia urbana no qual venho me aprofundando (por isto batizei a série do ano passado de Minha Escola é Minha Aldeia).

Fotos: Alberto Nasiasene. Rio de Janeiro RJ. Janeiro de 2017. A comunidade do Santa Marta vista de Santa Teresa.


Nesta pesquisa de campo atual estou fazendo algumas investigações e reflexões comparativas entre o Santa Marta, que visitei há um ano, e o bairro badalado por artistas, de Santa Teresa. Um fica ao lado do outro e na mesma altura, praticamente. Entretanto, um, é chamado de favela, outro de bairro de artistas de classe média.

Foto do Kariok Hostel

Fotos: Alberto Nasiasene. Rio de Janeiro RJ. Janeiro de 2017


Dormi no Kariok Hostel, entre o sábado (em que visitei o MAM e pedi para fazer algum intercâmbio cultural pedagógico com o setor educativo de lá) e o domingo, onde fomos a Santa Teresa e ao Pão de Açúcar.


O Kariok Hostel é perto do outeiro da Glória, onde fica uma linda igreja barroca que amo desde minha adolescência, porque estive nela, quando vim representar o DF na Terceira e na Quarta Maratona Literária (ganhei o primeiro lugar por duas vezes consecutivas, em 1978 e 1979; quando cursava o segundo e o terceiro anos do então segundo grau).


O Rio de Janeiro é interessante para professores de história exatamente por isto, porque aqui vemos o que estudamos nos livros, desde o início do processo colonial.

Esqueci de dizer que, quando estive lá na laje do Michael Jackson, a escultura do Michael Jackson havia sido retirada do local por causa do vandalismo (estava sendo restaurada, porque era feita em material frágil, fibra de vidro, não em metal). Descobri que muitos habitantes das favelas do Rio odeiam estes pontos turísticos (tais como Pão de Açúcar e Cristo, tanto porque é caro, quanto porque se sentem excluídos do universo urbano que eles representam) e, no caso, manifestam sua revolta política atacando e destruindo. É por isto que o trabalho de arte educação com as periferias sociais que fazemos é "revolucionário".


É um longo caminho que o Brasil precisa trilhar ainda, com avanços e retrocessos, para diminuir este fosso entre as classes médias e as periferias sociais (e nossa proposta curricular vem nesta direção; por isto mesmo que a estagiária de educação artística do MAM se interessou por nossa experiência que pode ser vista no Semeando História). O próprio conceito de museologia social que estou aprendendo aqui (na próxima quinta irei visitar o Museu da Maré para ver como é aquela experiência, na esperança de levar comigo alguns princípios que possamos aplicar em nossa prática docente) me ajuda a avançar um pouco mais tanto em minha compreensão analítica e teórica, quanto em minha prática cidadã docente.


O MASP irá fazer uma exposição sobre a obra de Basquiat (como resistência a esta política cultural do Dória midiático). Precisamos visitar esta exposição com nossos estudantes como fizemos ano passado.


A reação contrária fez efeito e agora, em público, é preciso encontrar uma justificativa oficial para o idiota do prefeito amador.


Alberto Nasiasene


Seropédica, 24 de janeiro de 2017 PS. De tudo o que se leu até aqui, se o leitor teve paciência, pode-se chegar à seguinte conclusão: a política municipal da cidade de São Paulo é muito complicada de entender, se o ponto de vista for o meramente fulanizante (ou seja, o nome do prefeito tal, seguido do prefeito tal e tal...). São muito nomes para o leigo. Entretanto, em análises históricas com viés sociológico, por exemplo, os nomes são só a superfície de fenômenos estruturais mais profundos que não são tão difíceis de entender. São forças que podem ser facilmente reduzidas a denominadores comuns que não são tantos assim. Ou seja, poderemos perceber que, ao longo destes 31 anos de redemocratização da sociedade brasileira no pós 1985, as eleições municipais de São Paulo pendem mais para a centro direita do que para a centro esquerda. Entretanto, comparando-se com o Rio de Janeiro, São Paulo é ligeiramente mais progressista, em termos de administração municipal, do que a segunda maior cidade brasileira (que pode ser mais avançadinha em certas dimensões do cotidiano e dos costumes; mas, em termos políticos, é São Paulo que teve mais governos municipais de centro esquerda; incluindo-se aqui o período imediatamente posterior à redemocratização). Entretanto, os avanços sociais e em políticas públicas de São Paulo é um contínuo de avanços e retrocessos, um zigue zaguear que emperra a consolidação de políticas públicas mais progressistas, mas não as impede completamente em seu avanço lento, mas progressivo (graças à própria atuação de uma esquerda mais estrutural, aliada a setores de centro esquerda, que fazem, mesmo durante a vigência de administrações de centro direita, que a cidade vá avançando mais do que retrocedendo; embora não na velocidade que seria desejável em um país com tantas desigualdades sociais). Não se pode superestimar a força avassaladora do capital imobiliário e financeiro na cidade de São Paulo, mas também não se pode subestimá-lo. Até que ponto podemos fazer a distinção da correlação de forças depende de cada momento histórico e conjuntural em específico. Neste detalhamento é que as coisas ficam mais complicadas de serem entendidas por quem não tem um mínimo de conhecimento sobre a história política da cidade.

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