Como surgiu em mim a perspectiva socioambiental necessária
Cara amiga, [...]
Minha filha hoje segue um caminho que começou vinculado a uma das minhas oficinas ligadas ao Mais Educação, a da horta. Em 2011 ela tinha 17 anos e estava no ensino médio. Levei-a para me ajudar no filme Em Busca da Floresta. Quis retomar esta temática, que foi a primeira que fiz em parceria com Juliana e o Batata, no filme, Plantando o Saber, dando passos de maior aprofundamento por causa do suposto movimento anti PT verde, capitaneado pela Marina Silva. Meu foco anterior era mais na cultura popular do que em movimentos ecológicos e só voltei a esta temática para não deixá-la nas mãos de neoliberais e fundamentalistas. Daí surgiu a ampliação de minha perspectiva de pesquisa: socioambiental.
Este ano faz dez anos que fiz o primeiro curso da pedagogia da imagem no Museu da Imagem e do Som de Campinas MIS Campinas (voltaria a fazê-lo em 2009). Nestes dez anos aprendi muito, aprofundei o que comecei lá atrás e produzi uns 400 vídeos (nem sei mais como está o número, porque não fiz o inventário agora, mas, só no YouTube são mais de 330 vídeos expostos; alguns deles não estão no YouTube por inúmeras razões, de modo que tenho mais do que o que está exposto).
Comecei com uma intuição que foi desabrochando dentro do próprio curso, porque minha intenção inicial não era a de me tornar documentarista, mas a de me aprofundar como fotógrafo que já era. Durante o curso, sofri como que uma "embolia cerebral" (meu cérebro borbulhava, quase que literalmente, porque penso que houve alguma transformação nas sinapses internas, que acessaram memórias que estavam soterradas e eu não me lembrava, afinal, em fevereiro de 1984, tive traumatismo craniano por causa da última tentativa de suicídio, por atropelamento).
Por causa do contexto histórico em que vivíamos, a era da transição entre o reino da película e do digital, e o curso no qual estava inserido, com esta transformação interior que me ocorreu dentro de meu cérebro (abrindo acesso a regiões de memória que tinha sido danificadas pelo traumatismo craniano) redescobri que desde o final de minha adolescência eu realmente quis ser um cineasta, por causa da influência de Vladimir, mas também porque fundei e dirigi um cineclube estudantil secundarista em Brasília (recebíamos, via malote, diretamente da Embrafilme, filmes brasileiros em 16 mm).
Durante meu sofrimento, enquanto estudante de ciências sociais no interior da Paraíba, campus II da UFPB de então, havia colocado esta ideia para escanteio, porque, na era da película era impossível que um estudante sem recursos materiais como eu (no início, na clandestinidade política a qual fui forçado a viver, depois da premiação da IV Maratona Literária no Rio de Janeiro, quando censuraram de modo violento minha monografia que falava no "Jogo dialético na obra de José Lins do Rego"; passei muita fome, quase morri de inanição). Depois, ajudei a fundar o PT, em nível local, estadual e nacional. Mas fui me distanciando do desejo inicial de me tornar um cineasta. Mas não abandonei o desejo de ser escritor e poeta (coisa que sou até hoje, especialmente através do site Rota Mogiana que criei em 2007). Sinto que minha poesia concretista foi se distanciando do papel, cada vez mais, por causa da tendência que ela assumia em direção às artes visuais e hoje se manifesta por meio de meus vídeos (que estão, conscientemente, no momento, na exata interface entre o pictórico, o documental, o videográfico e a performance etc.).
Mal sabia eu, ao entrar, pela primeira vez no curso da pedagogia da imagem, no MIS, que o antigo desejo de ser um artista cineasta poderia se realizar em meio a este novo século.
Por isto estou feliz, porque me encontrei comigo mesmo de um modo surpreendente e não preciso de nada mais na vida, a não ser prosseguir realizando audiovisuais até o fim de minha vida (mesmo que fique em uma cadeira de rodas).
Já sofri horrores na vida e sempre saí renovado, criando mais e mais...
A cada ano que se passa, sinto que vou perdendo alguma coisa. Primeiro foi meu pai, em 2009; depois minha visão, por causa da catarata, em 2012; minha mãe, em 2013; agora, em 2017, a mobilidade, pelo menos momentaneamente...
Vou perdendo aos poucos muito, mas nunca a dignidade, como disse ao meu amigo Carlos Nunes, com quem fiz o filme Em Busca da Floresta.
Historia de aprender e desapegar...o tempo todo ao lermos a trajetória vemos isto....como também se abrir para o novo. Parabéns. .. a vida, perdas e ganhos e apego e desapego como o respirar.... E a fé e o afeto e o Amor ...dom maior. Parabéns, amigo. Tudo isso é lindo. E uma filha encantadora ...Parabéns aos pais tão amorosos e presentes..... Presente !!!! 🌴🌱🌿
Obrigado, amiga
Alberto Nasiasene
Jaguariúna, 12 de abril de 2017
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