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Linguagem e realidade são dimensões diferentes


Em nossa cultura luso brasileira, tão influenciada pelo positivismo, mas com o arcabouço jesuítico subjacente que lhe precedeu (que também era muito influenciado pelo logicismo dogmático e verborrágico típico da fase história pós escolástica, em que se racionalizou um aristotelismo à maneira da contra Reforma), há uma confusão conceitual muito grave: a de lógica e linguagem confundidas com a própria realidade. Portanto, quero aqui distinguir claramente que uma dimensão, a lógico discursiva, é bem distinta da outra, a ontológico material, e porquê.

Sempre costumo dizer que é importante aprender e dominar a linguagem. Mas é preciso que explique melhor, dentro do contexto dos diálogos que mantenho com interlocutores, quaisquer que sejam, o que quero dizer com linguagem e a necessidade de dominá-la. Ou seja, primeiro preciso dizer que há diferentes linguagens que não se restringem às mais conhecidas e valorizadas em nossa sociedade e em nossa cultura. Isto quer dizer que não estou falando de linguagem oral, linguística, quando, frequentemente, me refiro ao domínio da linguagem. Isto é uma coisa bem consolidada em nossa sociedade, embora eu faça sim muitos questionamentos a este entendimento comum.

Por exemplo, o domínio da língua portuguesa no Brasil geralmente não é problematizado como uma idealização de um código estabelecido de modo centralizador e autoritário a partir de setores da classe dominante brasileira atual (herdeiros do espírito centralizador e autoritário da Coroa Portuguesa da época colonial). Ou seja, o suposto falar erudito é só uma das muitas formas de imposição da cultura da classe dominantes sobre todo o povo brasileiro. Entretanto, nem a maior parte da classe dominante tem lá este domínio perfeito do falar erudito que está estabelecido pelos gramatiqueiros dogmáticos; muito menos todos os segmentos da população brasileira.

Pior ainda é confundir a língua portuguesa com esta variante dogmática e livresca que é dominada pelos gramatiqueiros, sem perceber que a língua portuguesa falada no Brasil, do ponto de vista dos linguistas, é uma realidade muito mais complexa e ampla do que esta versão unidimensional e estática que se tem dela a partir de um gramaticalismo livresco; bem ao gosto de professores de português esclerosados na sua falta de discernimento crítico e analítico (mas esta é uma das heranças de que falo da influência jesuítica na história do Brasil; que ainda está bem presente na atualidade histórica, mesmo que inconscientemente).

Isto quer dizer que dominar a fala "correta" do falar português no Brasil já é uma complicação muito ampla que só piora quando passamos para outro passo que vai além da linguagem oral (no caso, entre milhares de outras línguas humanas, o português, idioma oficial e único do país; em detrimento das muitas línguas indígenas que deveriam ser reconhecidas paralelamente também, mas não o são). Pior ainda é quando abordamos a questão da escrita do português no Brasil, dentro do que seriam as regras ortográficas e gramaticais desta língua (todas estabelecidas de forma centralizadora e autoritária, como dissemos também). Este processo de aprendizagem da linguagem portuguesa escrita no Brasil começa na infância, mas prossegue, em graus diferentes de aprofundamento, até o nível universitário (eu diria mais, prossegue indefinidamente ao longo da vida).

Mas aqui precisamos começar a introduzir uma primeira bifurcação, tão valorizada por nossa sociedade, a repeito do domínio da linguagem: a linguagem notacional matemática que é uma variação escrita da matemática concreta e abstrata que acontece dentro de mentes (por isto é que é bom perceber que um analfabeto pode sim saber contar muito bem, mesmo sem dominar um minimo da linguagem escrita da matemática). A linguagem da matemática é algo que foi se desenvolvendo historicamente do mesmo modo que a linguagem escrita da língua oral. Isto quer dizer que não foi um dogma que desceu dos céus, como no Monte Sinai (recebido de uma vez por todas). Ao contrário, a matemática escrita que conhecemos (e muitos confundem como a única linguagem das matemáticas) tem uma história bem recente dentro do processo da história ocidental (e foi esta versão surgida na Europa que foi imposta para o mundo todo por meio do colonialismo; mas é bom que não se esqueça que a própria matemática oficial europeia foi o resultado da contribuição de muitas matemáticas prévias e extra europeias, tais como a matemática dos egípcios, a matemática dos babilônios, a matemática dos indianos e dos chineses - mas esta matemática dominante se fechou diante da contribuição de povos indígenas americanos, como os maias, por exemplo).

Como vemos, não existe uma linha linearmente traçada, na história da matemática; enquanto prática social e enquanto linguagem escrita. Muito menos um corpo doutrinário, recebido dos céus, em um determinado período histórico e de uma vez por todas. Embora seja até mais difícil de entender, a linguagem da matemática escrita também tem uma história e nada indica que esta história ficará congelada pelos séculos dos séculos, amém (embora na mente da maioria absoluta dos professores de matemática que temos em nossos sistemas escolares seja isso mesmo em que acreditam).

Até aqui, abordamos apenas as duas linguagens mais valorizadas (super valorizadas, na verdade) por nossa sociedade ocidental de modo geral, mas especificamente a nossa sociedade brasileira. Entretanto, diante do leque de linguagens disponíveis na história das sociedades humanas, presentes ou extintas, as linguagens são muito mais amplas do que estas duas apenas. É muito reducionista pensar que só temos duas linguagens com que lidar, a linguagem da escrita e a linguagem da matemática.

Por isto é que se torna importante voltar a abordar a necessidade que temos, enquanto sociedade, de introduzir firmemente, na discussão intelectual pelo menos, a imperiosidade de abordagem de outros domínios da linguagem que não só são neglicenciados (em detrimento das imensas potencialidades de inteligência e expressão da cultura brasileira com um espectro muito mais amplo) mas sequer percebidas como existentes;muito para além desta dicotomia simplória da linguagem escrita e da linguagem matemática.

Estamos falando, por exemplo, da linguagem visual dos signos (ou ícones) existente não só na sinalização de trânsito, por exemplo, mas agora que temos uma sociedade conectada, na própria informática (que usa tanto as duas linguagens anteriores, mas também esta outra de que falo agora). Há uma linguagem muito complexa, com uma história também bem ampla, da constituição e desenvolvimento da linguagem iconográfica, em nossa cultura ocidental de modo geral, mas em nossa cultura brasileira em específico. Estas linguagens iconográficas são distintas quando abordamos uma sociedade como a nacional e quando abordamos sociedades indígenas muito mais antigas do que a sociedade nacional, no mesmo território. Há variações "gramaticais" e "semânticas" entre diversas linguagens iconográficas, entre as diversas culturas, mas há também elementos estruturantes comuns.

Mas nosso objetivo aqui não é o de enveredar por mais um reducionismo face ao domínio das linguagens. Ao contrário, nossa intenção é questionar uma interpretação e um entendimento equivocado a respeito da afirmação que faço constantemente, a de que é preciso dominar a linguagem do cinema, por exemplo. De modo algum estou confundindo, com esta afirmação, que dominar a linguagem é dominar a realidade. Linguagem (forma) e realidade (conteúdo) são coisas e instâncias completamente diferentes. Ao focar, didaticamente apenas, em determinados momentos, numa, não estou a pensar que não exista a outra e isto acontece porque é impossível falar, com alguma profundidade, ao mesmo tempo, de tudo.

Vamos começar por definir, então, os termos primeiro. Por, coisas, estou querendo dizer, são realidades materiais existentes fora de nossa mente e independentemente dela (e com uma história que remonta a tempos anteriores ao nosso nascimento). Isto é, não estou falando de ideias entendidas do modo mais abstrato e espiritualizante possível (tenho abominação a esta maneira de abordar o mundo interior, psicológico, e exterior, social e físico, a nós mesmos). Não há nada de espiritual nisto, porque estou falando, mesmo quando falo de símbolos, de sinapses específicas que acontecem dentro de nosso cérebro, por meio de reações bioquímicas. Isto quer dizer que a "energia" mental de que falo, que são os pensamentos, nada mais são do que energia como a física moderna a entende. Não se trata de nada parecido com o que diversas concepções religiosas esotéricas e espiritualizantes em demasia advogam: não estou falando de energias como metáforas espirituais (muito menos das energias espirituais que médiuns acreditam estar manipulando em "passes espirituais", por exemplo). Nada mais longe de mim do que esta semântica que não emprego (as palavras são enganosas, por isto é que sempre digo que só podemos saber qual é o conceito quando observamos a semântica da palavra dentro do discurso de quem e emprega).

Por instâncias, estou querendo dizer que há níveis fenomênicos diferentes naquilo que chamamos de "realidade". Ou seja, há, para começar, o nível mental (onde ocorrem estas sinapses bioquímicas que chamamos de pensamento), mas há também o nível da percepção por meio da luz (que é processada por meio dos sensores biológicos que temos dentro de nossa retina, por exemplo, passando pelos meios óticos analógicos tradicionais, como a lente que é nosso cristalino, lente como outra qualquer, só que biológica e não industrial). Esta percepção por meio da luz, através da visão (que é um processamento digitalizado dentro de nosso cérebro que traduz para formas analógicas o que recebe de modo binário como instruções bioquímicas que chegam a partir da retina, por exemplo), é, geralmente, o que se confunde como sendo a realidade empírica imediata. É a materialidade externa que chega aos nossos sentidos por meio da visão (sem ela não podemos dominar a linguagem escrita, em tese; a não ser que a linguagem escrita esteja convertida para ser percebida e expressada por meio de outros sentidos que não a visão estrito senso).

Mas o que é a realidade empírica imediata? Se nosso entendimento realista estiver somente baseado nesta percepção visual do que seja a "realidade" como ela aparece ao olho humano a partir do que está ao lado, em frente ou atrás dele, esta seria uma das concepções do que chamo de realismo ingênuo que não consegue transcender as meras aparências externas das coisas para penetrar nos fenômenos internos das coisas, que estão muito além e muito aquém das aparências desta realidade imediata, vista pela mera percepção imediata da visão do olho humano. Depois de tantas décadas seguidas de predomínio da concepção positivista ou neo positivista do conhecimento científico, como a contida na visão epistemológica neo positivista dominante de Karl Popper, tão disseminada em nosso meio científico, por exemplo, é preciso lembrar, a todos, que não é verdade que todos os cidadãos e indivíduos de nossa sociedade compartilham desta mesma visão positivista ou neo positivista do que seja "realidade". Este realismo ingênuo (ou materialista mecanicista mais sofisticado, como na visão neo positivista) não existe, enquanto concepção de mundo, por exemplo, em muitas mentes religiosas existentes dentro de nossa própria realidade (e em muitas faixas etárias) que não percebem o mundo por meio deste método simplório. Nestes casos, a teoria do conhecimento que predomina é a de Platão, em tudo diferente desta maneira empirista, mesmo que simplória, de ver o mundo. Mas, em mentes mais sofisticadas, como, por exemplo, naqueles sociólogos weberianos ou psicanalistas, há uma complicação adicional que não pode ser reduzida nem ao neo positivismo mecanicista e empirista, nem ao platonismo (de cunho religioso ou fantasioso apenas, como nas crianças); porque praticam uma abordagem neo kantiana mais complexa, não mecanicista ou meramente empirista, que não quero abordar aqui no momento (fica para outra oportunidade).

Por isto é que é surpreendente (para quem tem uma visão positivista ou neo positivista simplória da realidade, que nunca se questiona a si mesma como uma determinada visão entre outras possíveis) constatar que ainda existem concepções de mundo que não são, substancialmente, diferentes de concepções de mundo que existiam historicamente, por exemplo, na Idade Média europeia ou na primeira metade do século XIX, como, por exemplo, aqueles que acreditam e praticam uma religião pseudo científica como o kardecismo (uma mistura eclética de positivismo e platonismo, ideologicamente bem conservador e bem eurocêntrico como abordei em postagem anterior). Quem se surpreende com isto não distingue que o conceito que se tem de realidade não é algo compartilhado indistintamente por todos os indivíduos da humanidade, nem da sua própria sociedade (é a isto que chamamos de concepção de mundo, que não tem nada que ver com a ideia que uma pessoa faça da geografia do mundo). Por isto é que ocorrem os choques culturais, mesmo dentro de uma mesma sociedade, quando indivíduos de classes sociais diferentes, de regiões geográficas diferentes e de religiões diferentes, por exemplo, entram em contato e estabelecem tentativas de comunicação entre si - os desentendimentos podem ser creditados a tudo isto, a concepções de mundo diferentes e a linguagens diferentes que são veiculadas.

Uma cultura dominante que super enfatiza apenas o domínio de duas linguagens, em detrimento das múltiplas e complexas linguagens que existem socialmente no mundo e no território em que se vive é uma cultura que sempre será insensível a perceber que a "realidade" em si mesma não é a mesma coisa do que se pensa sobre o que seja esta "realidade" dentro de nossos cérebros. Pior ainda, será uma sociedade necessariamente autoritária, que tenderá impor um único ponto de vista, o seu (de elites intelectuais dominantes; se forem elites intelectuais dominantes com forte percepção simplória baseada em um "realismo ingênuo", em pleno século XXI, não estaremos distantes de uma sociedade fundamentalista que será opressiva sim para não só as outras percepções mais complexas e elaboradas do que seja a realidade, mas para com a própria população que domina; mas pior ainda, como na corrente que se autodenomina "escola sem partido que não seja o deles", baseada em uma concepção protestante fundamentalista, é quando temos segmentos sociais teocráticos, vinculados a igrejas, que querem controlar ideologicamente a escola pública secularizada que ainda temos, bem ou mal que seja).

Agora, diante da realidade da linguagem em si mesma (que, como vimos, já é muito complexa) precisamos introduzir uma complicação ainda maior: a linguagem não é a realidade e com ela não se confunde. Isto é, a lógica não é a mesma coisa que a ontologia. Esta confusão conceitual entre estas duas dimensões da realidade, a dimensão da linguagem e a dimensão material muito para além da linguagem é a mais comum; mesmo entre intelectuais críticos e até entre intelectuais marxistas. Por isto é que eles ficam intrigados e confundidos quando falamos que é preciso, primeiro, dominar, criticamente, a linguagem. Pensam que confundimos, como muitos linguistas, a realidade em si mesma com a linguagem e que estamos dizendo que nossa tarefa deva se restringir somente a isto, a dominar a linguagem.

Para que se compreenda o que queremos dizer é que afirmamos apenas que é preciso dominar a linguagem em primeiro lugar. Mas isto é só o começo, não é o fim, nem o objetivo final de nada. Não acreditamos que tudo se resuma no conhecimento e no domínio da linguagem e muito menos com as possíveis problematizações da linguagem com a intenção de reinventá-la (como é bem comum entre artistas contemporâneos, especialmente os que acreditam na balela do "pós moderno"). Isto porque a concepção ontológica que temos sobre a realidade vai muito além e muito aquém da lógica (todas as linguagens têm uma lógica específica, mas a lógica, o Logos, é um aspecto menor da realidade do Ser, ou seja, o Ontos, que será sempre muito mais além do que a lógica, qualquer que seja ela). A lógica pode corresponder, enquanto representação, em linhas gerais, à ontologia; mas será sempre uma representação caricatural (porque é impossível representar a própria realidade de modo absoluto, em todas as suas dimensões ao mesmo tempo, a não ser se confundindo com a realidade por meio do estar e ser no mundo que vai muito além de nossas representações, de nossa singularidade e de nossa vontade enquanto indivíduos da espécie humana).

Portanto, partimos do princípio de que a realidade é muito mais complexa e sempre estará muito para além, tando de nossa estrita percepção sensorial pessoal ou social, quanto de nossa própria capacidade de entendimento e explicação sobre ela. Isto quer dizer que por lógica, estamos querendo dizer que há regras, leis, gramáticas, semânticas etc. diversas, de acordo com muitos tipos possíveis de representações do conhecimento possível que possamos ter da realidade maior e externa às mentes humanas. Estas regras são correspondentes, na maioria das vezes, a parâmetros existentes fora de si mesmas, ou seja, na realidade maior, ou na física do universo (por isto que dizemos que as teorias só conseguem apreender, parcial e provisoriamente, as leis que regem a realidade física, sejam elas forças reais ou só tendências; porque nossa mente limitada só é capaz de captar aspectos momentâneos dos fenômenos do universo ou multiverso).

Por isto é que afirmamos que as linguagens são parte do mundo social humano, mas também do mundo material, no sentido da física clássica, relativista e quântica, mas com ele não se confundido completamente nunca. São meios de entendimento, de pesquisa e de expressão sobre o conteúdo desta pesquisa. Não são A Realidade; num sentido mais profundo e mais vasto. São, apesar disto, sim, maneiras de tentar captar a realidade que sempre será maior, mais complexa e fugidia para nosso entendimento intelectivo do mundo e de nós mesmos e para nossa percepção empírica da física e da realidade social e biológica. Tudo o que podemos apreender sobre esta realidade complexa, existente fora de nossas mentes e independentemente dela, será sempre algo parcial e provisório e é muito bom que seja assim nosso entendimento ao fazer a jornada de pesquisa, porque não iremos nos fechar dogmaticamente nos resultados parciais e provisórios que iremos obter. Isto quer dizer que este entendimento e este suposto domínio de conteúdos, captados pelas formas conceituais, socialmente moldadas, serão sempre inseridos em uma longa história humana de tentativas de apreensão e transformação do universo social, biológico e físico onde estamos. Mas o universo sempre será maior do que nossa capacidade de compreendê-lo ou transformá-lo. Ainda bem. Sem traumas e sem dramas existenciais.

Um dos aspectos que caracterizam uma visão de mundo dogmática e fundamentalista é que ela se fecha em si mesmo e não está aberta para o que não se enquadra ainda nas interpretações vigentes. É uma concepção de mundo formalmente mecanicista e estática, fechada em si mesma; o que contradiz frontalmente a dinâmica da vida social, da vida biológica e da física na qual estamos inseridos dentro do planeta, neste sistema solar, nesta galáxia e neste universo em expansão. Por isto, estes fundamentalistas de diversos matizes, chegam ao ponto ridículo de defenderem concepções de mundos de momentos históricos anteriores, com ar de uma suposta cientificidade que não têm sua interpretação e comunicação somente através da manipulação dos dados científicos ontológicos, acumulados ao longo da história da ciência moderna que temos, que são torcidos, sofisticamente, para se encaixarem na lógica da doutrina dogmática aceita. É o caso, por exemplo, da teoria da Terra Plana, uma aberração deletéria só para comprovar teologias fundamentalistas que não só não se sustentam, mas que são ridiculamente desacreditadas desta maneira (obscurecendo que a própria teologia e os textos sagrados autênticos podem ser lidos de outras maneiras que não estas interpretações fundamentalistas absurdas e que o problema não está nos textos sagrados desta ou daquela religião, mas na maneira em que ele são interpretados no mundo do século XXI e à luz de todo o conhecimento científico acumulado).

Diremos então, que adianta dominar a linguagem se não se tem nada para pesquisar e nada para expressar? Neste caso, direi: é inútil e aborrecido. Não creio em formas pelas formas (acho um saco ter que aguentar esta monotonia platônica) que existem por si mesmas (e, pior ainda, de maneira estática, para todo o sempre). Sou adepto da velha concepção de que não existe forma sem conteúdo e que há, no íntimo da própria matéria/energia, uma relação sempre dialética entre forma e conteúdo e, portanto, afirmo que de nada vale o domínio da linguagem apenas para demonstrar que se domina a linguagem. Isto é só o começo. E daí que se domine a linguagem?...

Dominar a linguagem, segundo afirmo, é só o primeiro passo para fazer arte e para fazer ciência contemporânea. Só isto. O importante não é a linguagem em si mesma. O importante é a expressão individual de personagens históricos, dentro de determinados contextos sociais, que se traduzem em diferentes formas de arte, de ciência de produções materiais diversas (desde as construções arquitetônicas, até os objetos da vida cotidiana neste planeta).

Novas linguagens só se tornam relevantes se se tornam novas maneiras de expressar novos conteúdos. É isto que defendo: estamos já no fim da segunda década do século XXI e boa parte da intelectualidade brasileira e dos sistemas escolares (quaisquer, desde o infantil até o universitário) ainda se contentam com a tautologia de ficar repetindo fórmulas limitadas de linguagens entendidas sem nenhuma criticidade (tanto na linguagem escrita da língua portuguesa, quanto na linguagem escrita da língua matemática; as duas únicas linguagens aceitas numa sociedade com uma forte herança positivista e jesuítica empobrecedora).

Por isto mesmo é que advogo a introdução da pedagogia da imagem nos sistemas escolares, dentro da concepção do currículo integrado, sem hierarquização de componentes curriculares, como o sistema que estamos tentando implantar na rede pública municipal de Campinas onde trabalho enquanto educador de história, em parceria interdisciplinar tanto com meus colegas professores de matemática, ciências e artes, quanto de educação física, para além da parceria entre português e geografia, por exemplo. Há inúmeras outras linguagens existentes na história humana e em nossa sociedade brasileira atual que sequer são vistas pelos sistemas de ensino formais, mas é inadmissível, a estas alturas, depois de tantas décadas de domínio de uma sociedade fortemente midiática, que a linguagem visual, mesmo dentro dos currículos formais, e com a existência obrigatória da disciplina de educação artística dentro de currículos oficiais, não seja encarada com a mesma seriedade com a qual ainda se encara, de modo incompetente (porque não se consegue ensinar sequer o domínio destas duas únicas linguagens de modo eficaz), as duas linguagens privilegiadas pelo sistema escolar formal: a língua portuguesa e a matemática.

Voltarei a escrever novamente sobre estas questões, porque esta temática é infindável.


Alberto Nasiasene


Jaguariúna, 24 de junho de 2017




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