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O proselitismo religioso kardecista é patético


Esta senhora, atriz global, se caracteriza por propagandear seu kardecismo a partir de sua posição de atriz "famosa" (como se isto fosse garantia de alguma coisa). Foi ela quem divulgou, em 2014, um vídeo, pelas redes sociais, declarando apoio explícito e formal a Aécio Neves PSDB (o pivô do golpe de Estado de 2016), desmentindo que iria votar em Dilma PT. Em nome dos valores de mercado neoliberais (tão ao gosto do kardecismo) e da honestidade na política, ela deu apoio explícito ao Aécio Neves, o principal corrupto, flagrado recebendo malas de dinheiro por empresário famoso. Nenhuma palavra dela contra a sociedade de classes, contra as desigualdades sociais profundas existente na sociedade brasileira que são o resultado da classe dominante que os donos da TV onde ela trabalha e a família dela pertencem. Conversa mole esta de que vem de uma família de imigrantes italianos. Aburguesaram-se e acumpliciaram-se sim com a ditadura militar brasileira a partir da própria carreira de atriz (bem diferente da carreira do Antunes, Augusto Boal, ou de José Celso Martinez; ambos perseguidos duramente pela ditadura, coisa que ela nunca foi) muitissimamente bem paga na rede Golpe de Televisão. Claro, bem coerente com os interesses inconfessáveis dela e de sua família kardecista. Deu apoio a um ladrão e ao desastre econômico que estamos vivenciando; sem falar que por causa do apoio dela, em 2014, temos hoje um presidente ladrão com toda uma quadrilha de ladrões que também deram apoio ao Aécio, como ela, em 2014. O cinismo dela só engana a trouxas e a história está a lhe cobrar seu "carma político" por ter votado no retrocesso e na hipocrisia fascistizante em 2014. Ninguém que apoia uma ditadura, por décadas a fio, mesmo sem dar a cara a tapa, como ela e família, tem moral para dar a cara tapa, como deu, apoiando o Aécio Neves PSDB em 2014 contra uma presidenta, mulher, alvo de uma campanha sórdida que esta senhora kardecista apoiou, que estava implementando não só políticas públicas inclusivas de massas de indivíduos deserdados, mas era honesta com a coisa pública.

Não entendo a razão pela qual um determinado blog de jornalismo econômico virou um local de proselitismo religioso kardecista. Entretanto, ao contrário dos apologistas desta religião e de artigos publicados ali, digo, conheço muitos kardecistas que não são seres humanos melhores coisa nenhuma. São pessoas mesquinhas, egoístas (a caridade de que tanto falam é só mais uma maneira egoísta que eles encontram para melhorar o próprio carma, ou seja, só pensam em si mesmos, nunca no próximo desinteressadamente sem esperar nada em troca). Não só são pessoas mesquinhas, em caráter, mas também muito interesseiras e muito materialistas no pior sentido da palavra (concentradores de riquezas como qualquer tio Patinhas e qualquer capitalista que vive da exploração do trabalho alheio, como se estivesse fazendo a caridade de fornecer trabalho para os outros). Hipócritas, direitistas fascistizantes (na minha escola há uma professora kardecista, professora de crianças, racista, direitista, anti esquerda declarada, anti socialista, golpista; que faz a tal caridade interesseira, terceirizada, em creches que deveriam ser públicas e administradas pelo Estado secular não por uma religião doutrinadora como esta). Neste caso, a própria doutrina espírita, autoritária, arrogante, pseudo científica e justificadora ideológica de uma sociedade excludente e de classes sociais, baseada em preconceitos evolucionistas ridículos é um dos motivos que induzem estas pessoas não a serem melhores seres humanos, mas seres humanos deploráveis.

Não sou médium e não quero contato com espírito algum. Tenho aversão total a esta maneira alienante de pensar e viver. Prefiro sempre os seres viventes e estes horizontes terrenos. Meu mundo não está de cabeça para baixo e lembro muito bem sim da opressão psicológica que foi, para mim, toda esta doutrinação kardecista, em minha adolescência, na Federação Espírita Brasileira FEB, em Brasília, em plena ditadura militar. O kardecismo é um tipo de ideologia repressora para quem se torna vítima desta doutrinação toda. Não consola coisa nenhuma (e é um embuste que se pretende a "terceira revelação" de Deus para a humanidade, depois do judaísmo e do cristianismo; mas o Islã também se pretende a "terceira revelação"), porque se torna um peso de culpas piores do que as culpas que a cultura judaico-cristã traz como efeito colateral psicológico; porque, no caso deles, é pior ainda, são culpas que não se podem conhecer direito, porque vindas de outras "encadernações" (conheci muitos burguesinhos metidos a besta que se diziam reencarnações de princesas e príncipes e até de pilotos de aviões nazistas; nunca de escravos ou homens pobres e brancos nascidos e vividos na colônia portuguesa das Américas). Pior ainda, é uma religião que não convive com o perdão, porque crê nesta balela da expiação pessoal através das múltiplas encadernações. Isto, na prática social e política, quer dizer que todas as mazelas sociais são supostamente explicadas como "dívidas adquiridas em encadernações anteriores". Por outro lado, os ricos e bem viventes o são por méritos em encadernações anteriores (neste caso, o kardecismo serve mesmo é como ideologia justificadora do capitalismo e da sociedade de classes, por conseguinte, da exploração do homem pelo próprio homem).

O kardecismo faz parte do caldo de cultura autoritário brasileiro que ajuda a dar ressonância social a uma ideologia burguesa como a da meritocracia neoliberal hipócrita. Que mérito pessoal tem o vereador filho do Mário Covas, o de ter nascido filho do ex governador? Isto não é mérito. Os bem nascidos não têm mérito algum de terem nascido em famílias que acumularam riquezas em cima do trabalho escravo e, posteriormente, assalariado. Isto não é mérito pessoal coisa nenhuma. Isto é o resultado de uma sociedade injusta, claramente explicada, cientificamente, não por espíritos conservadores que são ideologicamente afinados com a ideologia europeia colonial e burguesa, mas pelas ciências sociais e pela psicologia.

Quando comecei a dar aulas nesta escola pública frequentada por uma comunidade favelada, havia um professor de geografia, kardecista, que afirmava, peremptoriamente (postura típica de dogmáticos e arrogantes kardecistas que tão bem conheci na FEB em Brasília), que o planeta Terra estava passando por um fenômeno de migração de espíritos inferiores, vindos de um planeta inferior, que estavam se encarnando por aqui enquanto que os espíritos superiores a este estágio de evolução espiritual estavam se encarnando em planetas mais evoluídos do que a Terra. Quer dizer, ele explicava a existência de uma sociedade profundamente desigual, no caso, os frutos da ideologia neo liberal reinante durante toda a década de 1990, como uma escatologia de espíritos inferiores que estavam vindo em massa se reencarnar no nosso planeta (não há pessimismo mais desumano do que este, o de indicar que o futuro seria cada vez pior, porque supostos espíritos inferiores estavam vindo ocupar a Terra, enquanto que os espíritos superiores, os kardecistas burgueses, é claro, estavam emigrando para outros planetas; condomínios fechados que os isolaria destes "espíritos inferiores" que estavam imigrando na Terra no final do século XX).

Não passava pela cabeça deste senhor (mais preocupado com os espíritos desencarnados do que com as crianças e adolescentes encarnadas que estavam à sua vista; vítimas das políticas públicas neo liberais de uma sociedade secularmente excludente, surgida da violência da escravidão) que tudo aquilo poderia sim ser transformado pela luta social, política e cultural (e pedagógica), através das políticas que começaram a ser implantadas, por exemplo, a partir de 2003. A religião dele, verticalizada, não o induzia a dedicar sua atenção horizontalmente para o mundo terreno material, só para o mundo dos espíritos desencarnados. Em treze anos vi esta comunidade favelada, considerada habitada por "espíritos inferiores", por este kardecista, melhorar de vida (ao contrário das previsões escatológicas kardecistas deste professor de geografia que estava mais preocupado com a geografia do "plano superior" e do "Nosso Lar" neoliberal de kardecistas em filmes espíritas e livros do mercado editorial bem lucrativo que são os livros kardecistas). Os tais "espíritos inferiores", só porque eram negros, favelados e excluídos social, econômica e culturalmente não estavam predestinados a se tornarem criminosos e seres malignos obsessores, como o professor de geografia pensava e dizia, através de suas teorias kardecistas traduzidas para o cotidiano escolar em que atuava. Aquilo tudo me causava uma profunda indignação social, moral, ética e política. Deus que me livre de uma religião como esta!...

O ridículo ícone marxista leninista do kardecismo do culto às personalidades fundadoras da correta doutrina (típico de fundamentalismos religiosos). Abaixo, outro ridículo ícone da doutrina kardecista, com todos os seus estereótipos eurocêntricos do século XIX, mas travestidos de uma sociedade neo liberal branca como no Leblon que votou em peso no Aécio Neves, como a tal senhora atriz famosa da Rede Golpe de TV que declarou apoio a esta fantasia ideológica ultra neo liberal e conservadora bem ao gosto das classes dominantes brancas brasileiras.

Depois tive o desprazer de ter que conviver com esta professora kardecista, filha de um argentino, racista, preconceituosa, direitista, malufo-tucana, anti petista, anti socialista, anti esquerdista, anti políticas afirmativas, anti pedagógica (defensora de posturas repressoras, autoritárias e anti pedagógicas) na mesma escola. Por isto é que afirmo, junto com a antropologia, uma coisa é o que se declara nas doutrinas, outra bem diferente é como se vive. A maioria dos centros kardecistas e dos kardecistas deu apoio ao golpe de 1964 e 2016 (inclusive esta professora de crianças kardecista), sustentando ideologicamente, na vida cotidiana, o avanço do fascismo recolonizador e do desmonte do Estado de Direito duramente alcançado no Brasil. Aliás, o desmonte do Estado de Bem Estar Social é bem conveniente para uma religião como o kardecismo, já que deixa livre um amplo campo social em que eles podem estabelecer seus centros espíritas doutrinadores e suas instituições de suposta caridade correlatas (obrigatórias para quem pratica o kardecismo, cujo lema é, "fora da caridade não há salvação").

Aliás, o "nosso lar", curitibano, é um cenário bem ao gosto da Lava Jato, que pretende impor um destino supostamente puro como este de espíritos desencarnados mas que vivem se manifestando através de centros espíritas organizados de modo a substituir as tarefas e os deveres do Estado impessoal numa sociedade rica mas desigual como a brasileira. Uma mistura de eclética e estética do padrão da Revolução Industrial inglesa de ferro, do século XIX, com um futurismo do ateu Niemeyer, que era comunista e lulista. A roupagem modernosa não oculta as estruturas conservadoras da concepção de mundo kardecista, mesmo em sua projeção espiritual de uma ideologia bem terrena. Neste caso, prefiro o céu xamânico das diversas etnias brasileiras do que esta assepsia kardecista excludente e hipócrita supostamente evoluída. É um lugar muito chato.


Como o kardecismo iria continuar praticando sua suposta caridade interesseira (em seu próprio carma futuro) se o Estado de Bem Estar Social não estava deixando margem para suas creches, suas escolas, seus abrigos, seus bazares?... Não por acaso, os kardecistas são tão fervorosamente neoliberais em suas convicções (até a projeção de suas crenças, em filmes como Nosso Lar, se dá por meio de uma sociedade ultra neoliberal de espíritos brancos supostamente "evoluídos").


Alberto Nasiasene


Jaguariúna, 27 de junho de 2017


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