Sou um paraibano de Alagoa Grande na diáspora
Panorâmica da paisagem da região onde se localiza Alagoa Grande D.P
O Cruzeiro com fitinhas de promessas Foto: Alberto Nasiasene 2006
Fico sempre emocionado por ser contactado por pessoas que são originadas de Alagoa Grande.
Esta postagem foi inspirada por causa de um e-mail que escrevi para uma estudante de arquitetura em João Pessoa que me contactou pedindo informações sobre o Morro do Cruzeiro porque descobriu minha postagem sobre esta comunidade, neste Blog Rota Mogiana. Qualquer um que estiver buscando imagens sobre Alagoa Grande, no Google, irá localizar minhas fotos neste blog e foi o que ela fez, achando meu e-mail para contato.
Alagoa Grande vista do Cruzeiro 1961 Foto: Doda dos Primitivos
Não estudei arquitetura, embora esta tenha sido minha intenção inicial até pouco antes de minha decisão final a respeito de qual curso eu iria escolher para entrar na universidade. Optei por fazer o bacharelado em ciências sociais na UFPB, antigo campus II, em Campina Grande (a atual Universidade Federal de Campina Grande). Poderia ter feito o vestibular em Brasília mesmo, onde morava, com meus pais e irmãos paraibanos, mas, delirantemente, acreditava que a Revolução iria começar no Nordeste e eu queria estar por lá para me juntar a ela. Por isto é que me decidi por fazer a universidade, no final de 1979, na Paraíba. Além disso, eu queria fugir do intenso cerceamento da ditadura militar na UnB (Universidade de Brasília), porque cresci vendo as truculências e perseguições que o braço direito da ditadura dentro da universidade fazia, o então reitor perpétuo Azevedão (capitão de mar e guerra). Estou escrevendo estas informações preliminares para explicar um pouco esta minha vida tão complicada, demonstrando porque, sendo criado em Brasília como fui e tendo família morando em Brasília, como tenho até hoje, fui fazer minha universidade na Paraíba, no campus II da UFPB, entre 1980 a 1983, tendo voltado a Brasília (para não morrer assassinado) em 1983, onde estudei parte de meu curso na UnB (meu pai sempre trabalhou na UnB e se aposentou por lá). Fiz um ensaio fotográfico sobre o Morro do Cruzeiro que vou indicar (porque está publicado em um site sobre cidades brasileiras) e qualquer um pode usar estas fotos se quiser (desde que cite a fonte). Durante meus estudos em ciências sociais (tanto em antropologia, quanto em sociologia), investiguei a comunidade do Morro do Cruzeiro, mas muito mais como observador externo (porque nunca consegui realizar meu sonho antropológico de alugar uma daquelas casinhas para estudá-la de dentro, porque minha família não deixava). A empregada de minha avó Francisca Guerra de Medeiros e de minha tia Ruth Guerra de Medeiros, Severina, era originada desta comunidade (tinha mãe e irmãos morando no morro e eu sempre ficava atento ao back ground dela na casa de minha avó, quando ia passar dias em Alagoa Grande) e, através dela, este foi o único ângulo de observação interna que consegui fazer no tempo em que morei na Paraíba.
Um dia ainda quero fazer um documentário sobre esta comunidade, porque quero dar continuidade à minha pesquisa anterior, até gerar um produto audiovisual que procure não só resgatar a história desta comunidade, como tente captar a dinâmica dela nos dias de hoje, em pleno século XXI. Acho muito interessante a existência desta comunidade em plena área urbana de Alagoa Grande e sempre tenho como referência a existência dela em minha mente ao comparar com as favelas daqui de Campinas, onde trabalho. Sou professor de história em uma escola municipal frequentada por uma comunidade favelada, a favela do Buraco do Sapo; portanto, vejam, é a situação oposta, morfologicamente falando, à do Morro do Cruzeiro. A situação urbana da comunidade do Morro do Cruzeiro é muito diferente da situação urbana de uma favela em Campinas (segundo dados publicados na imprensa de Campinas, Campinas é a sexta cidade brasileira com o maior número de favelas). Ou seja, estou falando que não considero o Morro do Cruzeiro, embora seja uma comunidade pobre muito abaixo da estratificação social existente na cidade de Alagoa Grande, como uma favela. Por várias razões, entre elas porque há, por incrível que possa parecer, uma arruamento existente no morro e alguma infra-estrutura urbana que integra esta comunidade harmonicamente à estrutura urbana mais abaixo, não como um quisto cancerígeno (como vêem as favelas aqui no centro-sul), mas como um prolongamento natural da cidade (como é o caso dos outros prolongamentos da cidade tais como a "rua da Baixinha", por exemplo, habitada por uma população de baixa renda também, mas, horizontalmente, seguindo o arruamento do núcleo urbano original) que sobe o morro.
Foto: Doda dos Primitivos
Exatamente porque sobe o morro, bem atrás da matriz da Igreja Católica centenária da cidade, de longe, para quem está chegando a Alagoa Grande, este é um dos aspectos urbanos que mais se destacam na cidade, evidentemente (um dos cartões de visita). Não deixa de ser um ponto de referência urbana e um ponto turístico (inclusive por causa do Cruzeiro e do mirante existentes no morro, que deveriam ser melhor cuidados pelos poderes públicos da cidade), porque, de lá, é possível avistar não só toda a cidade embaixo, mas a ampla paisagem circundante da micro-região do Brejo paraibano. Além disso, como vocês sabem, muitos dos turistas estrangeiros que vão ao Rio de Janeiro (onde existem também comunidades de baixa renda morando em morros em favelas), querem fazer turismo na Rocinha (a maior comunidade favelada do Rio que tem uma belíssima vista para a cidade e para a paisagem carioca), por incrível que possa parecer. Em Buenos Aires há um bairro popular também muito visitado por turistas estrangeiros (o bairro que abrigou uma comunidade imigrante italiana, com suas casas de madeira pintadas com cores fortes). Ora, como vocês podem perceber (e espero que não fiquem chocados comigo), tenho em alta conta a existência desta comunidade de minha cidade natal e não a vejo como lugar "feio" e não-turístico, mas como um rico manancial para ser mais aproveitado inclusive para o turismo local (sem falar em projetos sócio-econômicos e culturais que possam integrar esta comunidade no mercado de artesanato e à produção de cultura popular, que poderão atender os turistas que visitam a cidade, entre outros). Se a comunidade conseguir criar atividades econômicas e culturais auto sustentadas, evidentemente que a qualidade e a aparência das casas (que poderão adquirir mais cor e melhor acabamento estético), com o tempo, irão melhorar continuamente, criando um círculo virtuoso que só irá enriquecer a cidade de Alagoa Grande, poque constituirá um bairro popular pitoresco, com profundas raízes históricas na cultura popular (inclusive com a existência de restaurantes, lanchonetes, bares e salões de artesanato e cultura popular dispostos para o atendimento aos visitantes e turistas).
Foto: Doda dos Primitivos
As escadarias do Cruzeiro em 2006 Foto: Alberto Nasiasene
As escadarias do Cruzeiro em 2006 Foto: Alberto Nasiasene
Este é um exemplo de casa que poderia se tornar um restaurante rústico, ou uma lanchonete, com alguns melhoramentos estéticos (como nos quiosques da praia) Foto: Alberto Nasiasene
Meninas Foto: Alberto Nasiasene
Espero que ninguém se assuste comigo e pense que sou um professor aloprado. Sou inofensivo e um cidadão pacato, como outro qualquer, que só tem interesse em ajudar, mesmo que à distância, a cidade onde nasci (mas nunca morei em Alagoa Grande, apesar de sempre dizer, para meus amigos, que sou um inveterado caipirão de Alagoa Grande; meu primeiro ano de vida foi passado no Recife, onde meus pais moravam, depois em João Pessoa , para onde mudaram depois que eu tinha um ano, até, com quatro anos de idade, ir para Brasília, onde passei o resto de minha infância e toda minha adolescência).
Casa do Morro do Cruzeiro com quintal cultivado Foto: Alberto Nasiasene 2006
Vejam as fotos sobre Alagoa Grande para comprovar o que digo (é inevitável que a comunidade do Morro do Cruzeiro se destaque, inclusive por causa da topografia):
Foto: Doda dos Primitivos
Casa de taipa em cima do Morro do Cruzeiro Foto: Alberto Nasiasene 2006
Sempre senti muita vontade de manter contato, por meio da internet, com alagoa grandenses desde que me conectei à internet, nove anos atrás, mas não havia nenhuma possibilidade disto acontecer porque não havia provedor em Alagoa Grande, mas agora vejo que já existem muitos sites por lá. Ainda quero manter contato, portanto, não se esqueçam de mim. Minha família em Alagoa Grande já está, em sua maior parte, falecida, enterrada no cemitério local, mas ainda tenho primos que moram aí, como Aloísio, o atual dono do cartório do registro civil, que era de minha tia Ruth e, depois dela, de meu tio Joãozinho, pai do Aloísio. Minha avó materna ficou viúva de meu avô, que era o gerente dos Correios de Alagoa Grande, ainda na década de 1930, depois que minha mãe nasceu. Um de seus irmãos, tio Félix Guerra, foi prefeito de Alagoa Grande durante a República Velha. Meus bisavós maternos eram donos de um engenho e uma fazenda de gado, em Alagoa Grande, herdada depois pelos irmãos de minha avó (mas vieram originalmente de Itabaiana, no início do século XX, uma outra cidade da Paraíba, na divisa com Pernambuco, após venderem seus três engenhos de açúcar que tinham por lá; antes disto, a família tinha vindo de Pernambuco mesmo, no século XIX, e Portugal, de onde é originada). Meu bisavô paterno, também de Alagoa Grande, era dono de uma funerária e meu avô paterno, seu filho, o coronel do exército e da PM Ademar Naziazene, também nascido em Alagoa Grande, por ser militar, morou em diversas cidades, como João Pessoa, onde meu pai nasceu,a capital, e Campina Grande, a segunda maior cidade do estado, ora como comandante da PM, ora como delegado (ele foi um militar revolucionário, que lutou na Revolução de 1930 e 1932, descendo do estado de Minas Gerais, passando na região onde hoje moro, integrando as forças getulistas que vieram combater os paulistas, passando por Serra Negra, Amparo, Campinas até chegar, lutando até o fim, à cidade de Jundiaí, perto da capital São Paulo, onde as forças getulistas vindas do sul de Minas pararam, com a rendição dos paulistas).
Lá em baixo, onde a escadaria começa. Foto: Alberto Nasiasene 2006
Casa de taipa no Morro do Cruzeiro Foto: Alberto Nasiasene 2006
Estive em Alagoa Grande, em 2006 (após 18 anos que não pisava na Paraíba), levando minha família menor, minha esposa e minha filha, para conhecer a cidade onde nasci. As fotos que estão neste Blog Rota Mogiana foram tiradas nesta viagem de 2006 e eu não poderia fazer esta visita sem peregrinar (simbolicamente é que estou falando, porque não sou católico, mas um clérigo protestante) ao Morro do Cruzeiro, porque tenho uma forte ligação existencial com este lugar difícil de ser explicada.
Casas de taipa no Morro do Cruzeiro (perto do cume) Foto: Alberto Nasiasene 2006
Não conheço muita gente de Alagoa Grande, mas minha mãe, Inês Guerra de Medeiros Nasiasene, que mora em Brasília com meu pai Luizimar Nóbrega Nasiasene e irmãos mais novos, provavelmente ainda se lembra. Contatem-me e falem mais sobre vocês, porque quero conhecê-los melhor (e ajudá-los no que me for possível).
Casa de taipa com fachada melhorada e colorida. Foto: Alberto Nasiasene 2006
Alberto Nasiasene
22 de fevereiro de 2009 Rota Mogiana de Alberto Nasiasene é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Compartilhamento pela mesma licença 3.0 Brasil. Based on a work at www.rotamogiana.com.