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A geografia existencial paraibana que há em mim IV


Cartões postais da capital da Paraíba no início do século. O nome da cidade não é o mesmo de hoje,

porque são cartões postais da República Velha. Acervo pessoal de família. Eram de minha tia Ruth

Aqui faço as retificações necessárias dos e-mails em que falo de minha história pessoal inserida na história da Paraíba e do Brasil. Há pequenas imprecisões concretas que precisam ser cuidadosamente explicadas, para que eu não confunda ninguém, fornecendo informações históricas equivocadas, induzindo em erro quem quer que seja que não seja especialista em história paraibana. No e-mail em que falo que o futuro general Geisel, um dos presidentes ditatoriais do regime militar, foi um dos interventores da Revolução de 1930 na Paraíba, sinto que é necessário enfatizar que, naquela época, ele ainda não era general (além disso, ninguém imaginaria que ele seria futuro presidente do país, num regime que nem em sonho, seria possível imaginar na década de 1930; muito menos meu avô Ademar Naziazene), mas tenente (devia ser bem novinho). Outro detalhe que precisa ser esclarecido é que ele não foi interventor federal no estado pós-Revolução de 1930, mas secretário de finanças do interventor Antenor Navarro.

Antenor Navarro. Fonte: Para-í-be-a-bá

Como eu não fiz uma averiguação preliminar cuidadosa antes de escrever o e-mail, mas me baseei unicamente em minha própria memória, porque apesar das debilidades biológicas dela, ainda lembro que meu avô, quando eu era estudante de sociologia na UFPB e ouvia estas histórias com muita desconfiança (é preciso que alerte, porque, afinal, eu era marxista e sentia uma rigorosa e coerente necessidade de estar fundamentado em uma metodologia científica, sob o ponto de vista do materialismo histórico e dialético; claro que sem assumir isto para meu avô, porque, afinal, minha relação com ele era a de neto para avô e eu sentia muito afeto sincero por ele, mas isto não queria dizer que eu pensasse como ele e que tivesse perdido meu senso crítico só porque ele era meu avô) no início dos anos 1980 (portanto, em plena vigência da ditadura militar que eu combatia na militância estudantil universitária em Campina Grande, sem o conhecimento oficial de meu avô, que morava em João Pessoa; digo oficial porque, pelo menos quanto a mim, eu mantinha esta militância secreta e discreta, não a assumindo formalmente diante dele, porque eu sabia que ele era anti-comunista e que faria tudo para me demover do que estava fazendo em Campina Grande), falava muito do Geisel e de quando o conheceu pessoalmente na Paraíba, na época da interventoria causada pela Revolução de 1930 (meu avô tinha apenas 22 anos em 1930, quando participou ativamente tanto no combate à Insurreição de Princesa, quanto na Revolução de 1930 propriamente dita; mas já era aspirante a oficial PM, ou propriamente oficial, tenente, preciso averiguar nos documentos militares e pessoais que herdei dele e estão comigo aqui em Jaguariúna; e já tinha passado, no final dos anos 1920, no Rio de Janeiro, por um curso de formação de sargentos do exército). Eu me lembro que ficava surpreso com a presença histórica do famigerado general Ernesto Geisel (que estava presente nos pesadelos de meados de minha adolescência, em Brasília, porque era o governante de plantão daquela ditadura que eu tanto odiava), na Paraíba por causa da interventoria e foi isto que ficou mais forte em minha memória.

General presidente Ernesto Geisel. Fonte: ABI


Outro elemento concreto que precisa ser melhor explicado é quando disse que o Ariano Suassuna era primo de João Pessoa, porque o pai do Ariano seria o tio de João Pessoa. Entretanto, não posso precisar, no momento, porque não tenho, em minha cabeça, o esquema completo da família dos Pessoa para saber concretamente os graus de parentescos consangüíneos concretos existentes entre o ex-governador João Suaçuna - que governou a Paraíba de 1924 a 1928 (João Urbano Pessoa de Vasconcelos Suaçuna), pai do Ariano Suassuna, e João Pessoa - que governou do dia 22 de outubro de 1928 ao seu assassinato em 26 de julho de 1930 (João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque).

João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque. Fonte: Bairro do Catete

Portanto, que eles eram parentes, eram, distantes ou não (pelo menos compartilham do mesmo sobrenome Pessoa), mas eu me confundi com uma outra informação mais precisa que havia guardado em minha memória, a de que João Pessoa era o sobrinho do ex-presidente da República Velha Epitácio Pessoa (que também era parente do ex-governador João Suaçuna, sendo parente também do Ariano Suassuna). Pode ser que João Pessoa seja realmente primo do Ariano Suassuna (não sei se em segundo grau ou não), mas o pai do Ariano, pelo menos até onde posso entender, não era o tio do João Pessoa (o que sei de concreto até agora era que o tio era o Epitácio Pessoa). Estas informações parecem ser simples, mas não são não, porque as famílias paraibanas eram, e ainda são hoje, muito entrelaçadas e as estruturas de parentesco que existem entre elas é muito complexa, antropologicamente falando.

Fotos dos combatentes, ao lado do governo João Pessoa, aos revoltosos de Princesa, pouco antes da eclosão

da Revolução de 1930. Meu avô, o coronel Ademar Naziazene, estava entre estes rostos,

mas eu não sei identificá-lo aqui. Ele era, na época, muito jovem, aspirante a oficial (alferes).


O nome do Ariano é Suassuna, com grafia diferente da do pai (como é comum acontecer na história da Paraíba, até meu próprio nome tem uma grafia diferente da de meu avô , o coronel Ademar Naziazene, porque o sobrenome que herdei de meu avô é Naziazene, mas, no meu caso, grafado como Nasiasene), o ex-governador da Paraíba que antecedeu João Pessoa, que era grafado como Suaçuna, vem do visconde Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque, que tinha o título de Visconde de Suaçuna (portanto, a posteridade deste visconde adotou o título do viscondado do parente da época do Império). Observando-se bem o nome completo dos dois ex-governadores paraibanos do final dos anos 1920 (se não me engano, foi neste período que o tio de minha mãe, Félix de Araújo Guerra, foi o prefeito de Alagoa Grande), é claramente possível ver que há parentesco, porque ambos têm o sobrenome Pessoa.

Fèlix de Araújo Guerra

Foto do meu acervo pessoal de família. Era de minha tia Ruth

Que houve um rompimento político ente o pai do Ariano Suassuna, João Suaçuna ( na verdade, João Urbano Pessoa de Vasconcelos Suaçuna), que foi o governador antecedente de João Pessoa e o governador do final da década de 1920, sobrinho do ex-presidente Epitácio Pessoa, João Pessoa, é mais do que notório (o próprio Ariano Suassuna não se cansa de se referir a isto ainda hoje, em suas entrevistas). Não por acaso, portanto, é que o Ariano Suassuna mudou-se da Paraíba e foi fazer carreira no estado vizinho, Pernambuco (as mágoas e tragédias de família tiveram um peso decisivo nisto, afinal, o pai do Ariano, quando ele ainda era uma criança pequena, foi vítima também de assassinato político no Rio de Janeiro, em 1930, depois que João Pessoa foi assassinado - este acontecimento não tem a mesma projeção do que o assassinato de João Pessoa, que deflagrou a Revolução de 1930, mas precisa ser enfocado também para quem estuda o período, porque é o outro lado da história).

Getúlio Vargas e seu candidato a vice-presidente, João Pessoa. Fonte: Wikipédia

Portanto, no início do século XXI, estes acontecimentos trágicos (de um sentido arquetípico grego) na história de meu estado de origem ainda influenciam a história concreta de meu país, até por meio da arte e da obra de Ariano Suassuna, que traz, dentro de si, esta tragédia e esta tensão criadora (que, nele, são o adubo que fertilizam uma das mais importantes obras ficcionais brasileiras). Infelizmente, também sou filho menor da Paraíba e vivenciei também minhas pequenas tragédias quando estava na militância estudantil e, por isto mesmo, estes acontecimentos pretéritos que me afetaram na Paraíba (entre tantos, o assassinato de Margarida Maria Alves), ainda afetam meu viver aqui em Jaguariúna, onde vivo hoje. Não sou nenhum Ariano, portanto, mas tento também fazer com que estas tragédias pessoais de minha vida me fertilizem o espírito para que eu crie, dentro de meu contexto, a obra que estou tentando criar desde o final de minha adolescência.

Revolução de 1930. Getúlio Vargas vitorioso. Fonte: Wikipédia


Sou paraibano e brasileiro, acima de tudo, portanto, tento aprender com a história sofrida de meu povo a lição da resistência espiritual à opressão, porque, em meio às suas tragédias cotidianas, a cultura popular brasileira (até mesmo o carnaval) é uma demonstração de vitória sobre a dor e uma luta interior intensa contra a tristeza e a depressão. É por isto que tenho feito os e-mails que fiz ultimamente, como maneira de me purgar de mim mesmo, do pântano que há dentro de minhas estruturas psicológico-culturais mais profundas.


Alberto

28 de dezembro de 2009


Minhas tias, irmãs de minha mãe, em Alagoa Grande, em 1957, com meu irmão mais velho. Acervo pessoal de família.


Meu pai na década de 1960,em Brasília. Ele já trabalhava na UnB, onde exerceu vários cargos, entre eles, secretário do Instituto de Biologia e do Departamento de Letras até se aposentar na tesouraria da UnB, como supervisor administrativo, na reitoria (onde trabalhou anos e anos, ao lado dos decanos, do reitor e do vice-reitor, até se aposentar). Acervo pessoal de família.

Meu pai, aposentado, em casa, no natal de 1996, em Brasília. Minha filha, com três anos, estava lá, para conviver com os avós e tios paternos. As duas fotos embaixo mostram meu pai todo satisfeito dando o presente de natal para sua neta. In memoriam (3 de dezembro de 1934 - 22 de outubro de 2009). Foto: Alberto Nasiasene

Minha mãe no natal de 1996. Foto: Alberto Nasiasene

Alberto Eugênio 1960/61

Acervo pessoal de família

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