top of page

A Paraíba que existe em mim


A imagem mais perto do que senti agora, que é a única metáfora que encontro para expressar o impacto profundo que me ocorreu ao voltar da Paraíba, é como se eu tivesse mergulhado profundamente num sonho concreto, porque a Paraíba de que falo constantemente é uma Paraíba mítica e cultural que existe somente dentro de mim mesmo (em meu mundo de lembranças, de sonhos e pesadelos e em minha estrutura de personalidade, desde meu inconsciente). Sinto que acordei, ao começar esta semana longe da Paraíba, em minha casa, de um sonho feliz e não mais de um pesadelo (que era a imagem anterior que guardei da Paraíba, por causa de minhas vicissitudes no "pós-1982" e por causa de minha última visita à Paraíba, em 1988, quando fiquei na casa de meu avô e minha tia Ruth, ainda vivos). Nesta última semana de férias de meio de ano, em 2006, em casa, aqui em Jaguariúna, estado de São Paulo, onde vivo hoje, antes de retornar à atividade docente em minha escola, em Campinas, sinto que estou naquele estado que ficamos logo após o despertar: não estou mais sonhando, mas ainda não consegui "cair" completamente "na real".

Isto explica um pouco sobre as conseqüências psicológicas mais profundas de minha peregrinação espiritual à Paraíba agora do dia 8 ao dia 15 de julho. Para mim, não foi um simples passeio o que fiz, mas um mergulho profundo no mundo perdido que deixei (contra minha vontade) para trás. Na verdade, sinto que foi o meu corpo que teve que fugir (com medo de ser assassinado em 1983, como Margarida Maria Alves o foi), mas o meu espírito ficou preso por lá (atormentado e desorientado). Isto quer dizer que, dormindo ou acordado, em meu interior mais profundo, nunca deixei de habitar aqueles lugares onde vivi de 1980 a 1983. Eu precisava muito resgatar este meu espírito oprimido e atormentado capturando-o nas fotos que tirei agora (mais de 5 700). Como vocês sabem, esta é uma das razões que me motivaram a fazer esta viagem agora. Portanto, a única coisa que vai ficar eterna nesta viagem são estas fotos (que estarei olhando sempre até o fim de minha vida), já que minha memória biológica é fraca (e eu temo chegar à velhice com algum tipo de doença degenerativa como o mal de Alzheimer).

Penso que, apesar das debilidades de minha memória física, as profundas emoções que vivenciei agora (que são as lembranças que mais ficam guardadas em minhas memórias), serão recordadas e processadas gradualmente, na medida em que vou refletindo e analisando racionalmente o que vivi nesta semana na Paraíba. Destas meditações e análises é que irei escrevendo meus textos e ensaios fotográficos que pretendo criar a partir de agora.

Com estes bicos de penas digitais, que estou fazendo agora com as fotos que tirei desta minha última viagem à Paraíba, estou começando a conseguir fazer o resgate de minha atividade fotográfica e gravurística anterior, do final de minha adolescência, quando comecei a sair de Brasília para ter um encontro pessoal com o Brasil profundo que eu só conhecia através da arte e da literatura. Estava muito influenciado por Vladimir Carvalho e Socorro (que me davam dicas sobre os lugares que eu devia visitar). Eu era fascinado pela estética colonial do barroco brasileiro e pela estética popular de remotas eras que se perdem nas brumas do tempo (as raízes indígenas, africanas e lusitanas presentes na história brasileira que até hoje ainda pesquiso intensamente).

Estes bicos de penas digitais que estou criando agora serão realmente imprimidos e, com uma moldura de vidro, decorarão as paredes de minha casa. Preciso destes vínculos concretos com minha terra natal e minhas origens pendurados nas paredes de meu lar, porque quero demonstrar para os meus amigos e para os parentes de minha filha quais são as minhas raízes e quem eu sou (e de onde eu vim). Alberto Nasiasene Julho de 2006

Posts Em Destaque
Posts Recentes
Arquivo
Procurar por tags
Siga
  • Facebook Basic Square
  • Twitter Basic Square
  • Google+ Basic Square
bottom of page