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Sou um poeta marginal historiador que descobriu a internet

Caro amigo. Como lhe disse quinta-feira passada, há sete/oito anos que venho trabalhando em minha produção textual em meu computador (muitas delas chamadas por mim de livros digitais). Já nem sei mais contar as horas infindáveis que tenho dedicado a esta labuta (que me dá tanto prazer). Como gosto imensamente de escrever, isto me realiza enquanto ser humano. Não sou mais um deslumbrado pela internet (é verdade que assim fui no primeiro momento de minha conexão no ano de 2000; porque este era um velho sonho que estava se realizando e que só se tornou possível quando instalei a minha primeira linha de telefone fixo em Jaguariúna), mas ainda sou um entusiasta dela sim. Para mim, portanto, é inadmissível que um intelectual, qualquer que seja, não perceba as inúmeras possibilidades técnicas que estão à nossa disposição através da internet. Por mais que se possa criticar a rede mundial de computadores (e há motivos de crítica sim, como tudo o que é humano), é incomparável a dimensão democrática que ela descortina (e não estou aqui a negar a exclusão digital que envolve a maioria de nossa população que também precisa ser incluída sim nesta maravilha tecnológica). Se eu tivesse à disposição, quando fui aluno de sociologia no início dos anos 1980, na UFPB, uma internet, creio que minha vida teria tomado inevitavelmente outro rumo. Naquele tempo, por falta de dinheiro, eu escrevia os meus textos e os meus diários manualmente (ainda tenho estes manuscritos guardados comigo, felizmente). Muitas vezes, sequer eu tinha dinheiro para tirar cópias xerox e distribuí-los entre meus amigos. Portanto, se eu tivesse uma internet naquele tempo, minhas comunicações seriam mais intensas e mais divulgadas.

Com Mirza em 2005. Foto: Ângelo Pessoa

Sou da geração da "poesia marginal", também chamada geração mimeógrafo. Esta geração saía pelos teatros, pelos cinemas, pelos encontros universitários, vendendo sua produção poética, muitas vezes rodada em mimeógrafos, impressa em literatura de cordel, ou papel jornal bem barato. Ficou chamada poesia marginal porque se colocava à margem das editoras e do mercado editorial oficial (que, como você sabe, é um mercado extremamente fechado e elitista). Como costumo dizer, sou irmão mais novo desta geração dos anos 1970 e herdeiro da geração mais antiga do concretismo e Ferreira Gullar. Há tempos que não tenho praticado mais minha práxis poética e já faz algum tempo que venho tentando ressuscitá-la em meu coração. Não sei qual a razão que me tem impedido de prosseguir o meu fazer poético. Entretanto, nestes últimos tempos, tenho percebido que minha energia criativa poética tem sido canalizada integralmente para a minha atividade de educador e de historiador (afinal, a historiografia, mesmo sem deixar de ser ciência, é também um gênero literário). Participar de seu grupo de trabalho, portanto, é, para mim, uma maneira de ser poeta e é também por isso que escrevo tantos e-mails.

Nicolas Behr mais jovem, quando começou a escrever poesia

Nicolas Behr, meu irmão mais velho na poesia marginal em Brasília, com os seus livrinhos tais como Iogurte com Farinha,

que comprávamos em shows, cinemas e teatros.

Não se esqueça, sou um aquariano, portanto, é inevitável que eu seja um entusiasta de novas tecnologias e esteja voltado para o futuro. Quando eu era um pré-adolescente e um adolescente, na década de 1970, diziam que os aquarianos estavam 100 anos à frente de sua geração. Hoje, estão falando, mais modestamente, que estão 50 anos à frente. Como você sabe, não acredito que os astros tenham a menor culpa por isto, mas como levo muito a sério Jung, Eliade, os antropólogos e sociólogos em geral, não poderia deixar de levar este elemento cultural formador que me influenciou profundamente em minha socialização, como paraibano e brasileiro que sou, criando um arquétipo inconsciente em minha personalidade (mesmo que creia que estes arquétipos são socialmente construídos e não têm nada de tão esotéricos assim...). Esta é uma longa discussão que gostaria de desenvolver e aprofundar com você. Não é por mero acaso que encomendei o livro O Sagrado e o Profano do Mircea Eliade para você (ainda estou me armando teoricamente para realizar este empreendimento que tanto anseio e que sei que será imensamente útil em minha pesquisa historiográfica) e não é também por mero acaso que gosto tanto de escrever e-mails (afinal, eles são os textos que vão se tornando os meus livros).

Poesia de rua em tempos de informática no século XXI

Não me leve a sério, mas me aceite como um aquariano amalucado que tem prazer em fazer amizades e se dedicar às causas sociais da humanidade. Alberto Nasiasene Jaguariúna, 15 de maio de 2004 Rota Mogiana de Alberto Nasiasene é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Compartilhamento pela mesma licença 3.0 Brasil. Based on a work at www.rotamogiana.com.


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