Marina não pode fugir da questão principal
O mal que o pentecostalismo alienado e alienante está fazendo ao país é indesculpável (e também está por trás do golpe na democracia de 2016). Não é de agora que venho alertando para este fenômeno nefasto. A sede de poder e dinheiro (ou dinheiro e poder, na ordem inversa, tanto faz) destes setores eclesiásticos pode sim colocar sob ameaça a própria condição imprescindível de separação necessária de Estado face a religião(qualquer que seja), base do mundo pós Revolução Francesa. Uma teocracia é tudo o que não precisamos no Brasil, para além desta falta de bom senso mínimo na gestão da coisa pública.
Para além das traições políticas motivadas pelo desejo de fugir da justiça, que está por trás das motivações estritamente políticas dos golpistas de primeira hora, há também a sede de poder e influência social e econômica de setores evangélicos que estão tanto por trás das supostas candidaturas políticas de um Bolsonaro, quanto do ex deputado Eduardo Cunha (pivô do golpe); apoiados pelo pastor Silas Malafaia (a mais histérica liderança religiosa fundamentalista pentecostal golpista que vinha atuando em campanhas políticas nacionais de forma mais visível pelo menos desde a campanha do ex candidato José Serra, PSDB, em 2010); mas também da ex candidata Marina Silva (também nova convertida às Assembleias de Deus e manipuladora consciente do voto evangélico fundamentalista, em sua maior parte, pentecostal e neo pentecostal).
Aliás, muito da trajetória político ideológica da Marina Silva (que vem provocando descontentamento de seguidores da REDE mais ingênuos, que não atentam suficientemente para as influências teológicas da líder do partido nanico, em formação, como a fonte das motivações subjetivas da presidente do partido, que sabe que sua influência pessoal na política está muito mais atrelada ao lastro do voto evangélico do que à base política que seu partideco pode lhe dar) é facilmente explicada quando se analisar com um pouco mais de profundidade seus referenciais pentecostais de fé (acrescentando-se a esta análise o fato de que ela é uma recém convertida, o que quer dizer que, ao se converter ao pentecostalismo conservador das Assembleias de Deus, renegou toda a sua trajetória política de esquerda secularizada anterior).
Se a Marina Silva tivesse chegado ao poder, o estrago que ela iria fazer seria ainda pior do que está fazendo o traidor Michel Temer, porque as motivações e orientações subjetivas dela estariam mais fortemente atreladas à maneira irracionalista de ser e agir, em nome da fé (que estaria por trás dos eleitores da massa evangélica que lhe dá sustentação) pentecostal que acredita literalmente em postulações como estas, a de que basta pronunciar, com fé inabalável na Palavra de Deus (ou seja, recitação de versículos bíblicos como estes que foram anunciados pela tal prefeita), que o mundo espiritual do poder do Espírito Santo irá agir de forma milagrosa (aliás, um dos dogmas de fé do pentecostalismo é a realidade e a atualidade não só dos dons do Espírito Santo de Deus, mas dos milagres tais como a crença de que se pode provocar chuvas ou até mesmo deslocamentos de montanhas, por incrível que possa parecer, unicamente baseando-se nas orações e pedidos de fiéis com fé inabalável diante de Deus). Caso a Marina Silva estivesse agora no poder, as coisas seriam piores ainda e o caos político, social e econômico que ela geraria seria pior do que o que está gerando o traidor Michel Temer. Isto porque, longe de qualquer cálculo pessoal mesquinho de fugir à prestação de contas diante da justiça, como a tropa de choque do traidor Temer, pelos mal feitos relativos ao dinheiro recebido ilegalmente, por baixo do pano, como propinas, comissões ou caixa dois como os do Michel e seu braço direito Eduardo Cunha; ou por interesse meramente político ideológico racional, qualquer que seja, como os do Bolsonaro, por exemplo, o pentecostalismo fundamentalista é muito mais radical como ideologia política do que o fascismo, porque está bem longe de comparação até com uma ideologia mais secularizada como o fascismo, já que não se trata mais de uma ideologia fascista, com pendores irracionalistas e religiosos, mas de uma ideologia política teocrática propriamente dita; ainda não experimentada em países da esfera do mundo ocidental mediterrâneo pós Revolução Francesa (e diferente do que havia antes da Revolução Francesa, no absolutismo monárquico por direito divino).
Imaginem então o país tendo que ser dirigido, aleatória e imprevisivelmente, por orações pentecostais e "profecias", pronunciadas em línguas estranhas (glossolalia), nos bastidores do poder, por assessores especiais da presidência da república... Portanto, mais do que as questões aparentemente mais racionais de repúdio ao casamento gay, trata-se de um modo de ser e governar incompatível não só com nossa visão de cidadania desde a Revolução Francesa, mas com nosso modo cotidiano de viver. Por mais "pós moderno" que se seja, duvido que se queira entregar os destinos de nosso pais, de modo consciente, a uma governança parecida com a da rainha D. Maria (a louca), mãe de D. João VI (que era um carola extremada e de um catolicismo bem distante do catolicismo dos reis portugueses posteriores à restauração de Portugal; mas semelhante ao de D. Sebastião, que morreu, em 1578, nos campos da batalha do Alcácer Quibir, no Marrocos deixando a nação portuguesa acéfala e em perigo de ser englobada pelo reino poderoso de Castela de Felipe II, o parente mais próximo ao rei morto imprudentemente no Marrocos); que pôs fim ao domínio político (estruturante da recuperação política e econômica de Portugal) do Marquês de Pombal sob a influência do despotismo esclarecido que este primeiro ministro da coroa portuguesa, sob o reinado de D. José, pai de D. Maria, implantou no período pré Revolução Francesa fortalecendo o pequeno Portugal diante de aliados mais poderosos como a Inglaterra (que queria manter Portugal na dependência).
Se não ficarmos atentos a esta escalada, logo estaremos sob a hegemonia de um Estado republicano teocrático fundamentalista evangélico (ainda pior do que o que vivenciamos sob a coroa portuguesa nos tempos de D. Sebastião e D. Maria); com uma sharia baseada diretamente na teologia fundamentalista retirada de versículos bíblicos como no caso que se verá aqui embaixo, em uma prefeitura do Mato Grosso do Sul. Resta observar o que vai acontecer na prefeitura do Rio de Janeiro, por exemplo. Não sabemos e não queremos que isto se repita, mas é melhor não ficar tão desprevenido assim não...
Alberto Nasiasene
Jaguariúna, 27 de dezembro de 2016
Febeapá, século 21. Prefeita perde eleição e entrega cidade a Deus POR FERNANDO BRITO · 27/12/2016
Digníssima de uma nova versão – e ampliadíssima – versão do Festival da Besteira que Assola o País, o inesquecível livro de Sérgio Porto, o Stanislau Ponte preta, na época, como agora, no início da ditadura.
Na onda do “a fé pode tudo” a prefeita da cidade de Sapezal, no Mato Grosso do Sul, assinou e mandou publicar semana passada – na conta da Prefeitura, claro – um decreto onde declara (oficialmente!) que a “cidade pertence a Deus e que todos os setores da Prefeitura Municipal estarão sobre a cobertura do Altíssimo”
Dona Ilma Grisoste Barbosa, do PSD e que ficou em último lugar na eleição em que buscava continuar no cargo, decreta que “todos os principados, potestades, governadores deste mundo tenebroso, e as forças espirituais do mal, nesta cidade, estarão sujeitas ao senhor Jesus Cristo de Nazaré”.
Bem, Sapezal não é Brasília, não é?
Mas para que não restem dúvidas de sua divina determinação, a Dona Ilma ainda acrescenta que revoga “”em nome de Jesus, todos os pactos realizados com qualquer outro Deus ou entidade espiritual”.
Antes do jamegão, “lacra”: “Minha palavra é irrevogável!”
Começo a ter dúvidas sobre de que lado da porta do hospício estou.
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